Cartas do cárcere em pleno século XXI – uma versão tupiniquim

Com as gravações divulgadas pela imprensa, tanto burguesa como popular, fica cada vez mais evidente a grande farsa jurídica que foi a condenação do ex-presidente Lula.

Obviamente que prisões políticas não são algo novo, os que viveram a ditadura militar e mesmo o ex-presidente da África do Sul, o eterno Nelson Mandela são provas disso, mas a meu ver, dadas as devidas diferenças e nuances históricas, nada é mais similar à farsa da prisão de Lula que a farsa da cárcere do deputado italiano Antônio Gramsci na década de 1920 pelo governo fascista de Mussolini.

Obviamente que as situações não são idênticas, nem mesmo ambos podem ser comparados, afinal, só para início de conversa Grasmci era comunista, Lula social democrata, o sardo era parlamentar, enquanto o ex-torneiro mecânico foi o presidente que tirou o Brasil do mapa da fome.
Entretanto, com tudo isso, ainda sim existem similaridades, a começar pelo processo fraudulento que ambos foram vítimas, verdadeiras farsas jurídicas que tinham o mesmo objetivo: calar aqueles que poderiam atrapalhar os interesses das classes dominantes.

A famosa frase dita pelo cínico procurador que condenou o fundador do Partido Comunista Italiano (PCI), ficou famosa: “temos que impedir esse cérebro de funcionar durante 20 anos". Não foi preciso tanto, com sérios problemas de saúde, agravados pelos anos de prisão, em 1937 o maior pensador socialista do ocidente no século XX veio a falecer.

Lendo as gravações da Lava Jato, enfim públicas, a psicopatia de Sérgio Moro em suas falas e ações coordenadas junto ao Ministério Público são muito, mas muito similares às humilhações e farsas que Gramsci sofreu.

Outra triste coincidência é o fato de impedirem ambos de falar. Só recentemente, ou seja, após as eleições, é que o Supremos Tribunal Federal (STF) enfim permitiu Lula ser entrevistado. O italiano sofreu situação similar, proibido de falar com a imprensa europeia e tendo todas as suas correspondências avaliadas pelos censores.

E é aí que a genialidade de Gramsci se supera, pois, criar pseudônimos que os leitores (no caso seus parentes e Togliatti, dirigente do PCI) fossem capazes de identificar do que se tratava, é algo fantástico. Foi assim que surgiu a sua principal obra: os 32 Cadernos do Cárcere, de 2.848 páginas, obviamente não pensadas para serem publicadas.

Refletindo sobre política, filosofia, sociologia e educação entre outros temas, estes livros acabaram repaginando todo o pensamento da esquerda mundial, de comunistas a social democratas, aprofundando as análises marxistas a um patamar nunca antes visto.

Novamente cabe refletirmos sobre as similaridades entre ambos: será que as cartas de Lula na prisão serão publicadas, da mesma forma que as do pensador sardo um dia foram?

Será que veremos o ex-torneiro mecânico ter o mesmo trágico fim de Gramsci? Com mais de 70 anos, tendo perdido a esposa, o irmão e o neto em um período recente, será que o ex-presidente terá o mesmo fim? Sendo liberado somente debilitado e às vésperas da morte?

Ainda não temos essas respostas, em especial pelo nível de futurologia que elas exigem, mas não dá para negar que as chances de vermos novamente tudo isso se repetir, agora em nossa pátria, é real.

Sem dúvida alguma é extremamente complexo analisar um período histórico sendo parte dele, mas afirmar que essas trágicas páginas serão um dia motivo de vergonha para o país, como são as condenações de Mussolini, não é difícil.

Por hora, cabe apenas afirmar que a injustiça feita a Lula, a exemplo do que aconteceu com Gramsci já é uma realidade, afinal não existem farsas e mentiras que sejam capazes de apagar a própria história.

Lula livre já!

Até a próxima.

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