Não nos enganemos com a “casa de mãe Joana”

A demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, explicitadamente por haver desobedecido a uma ordem do presidente da República, mais uma dentre várias nos escalões superiores do governo pelo mesmo motivo, gera contrariedade em uns— no mercado, especial — e comentários jocosos da parte de outros.

Eu mesmo escrevi algo assim no Twitter, denominando o governo de “casa de mãe Joana” — expressão tipicamente nordestina que se aplica a algum grupo ou instituição em quem muita gente manda e ninguém acerta o prumo.

Mas no caso do atual governo é um exagero e uma impropriedade.

Que o presidente é despreparado, confuso e inconsequente é óbvio. Porém alguém manda e sabe o que pretende fazer, nominadamente a equipe econômica, que executa a agenda ultraliberal apoiada maioria parlamentar sensível a essa agenda.

Desse modo, não basta ridicularizar desacertos e descaminhos do presidente e de seus ajudantes mais próximos. É preciso acompanhar diligentemente o conjunto da obra e oferecer apreciação crítica abrangente e aprofundada.

E na ação política persistir o esforço de juntar forças capazes de convergirem em torno de uma plataforma comum.

Seja no parlamento, onde sempre é possível explorar com habilidade contradições e divergências no tempo governista; seja através da mobilização da sociedade.

Nesse sentido, subestimar a importância da coalizão (marcadamente ampla e plural) que lançou o manifesto “Direito Já – Fórum pela Democracia”, em São Paulo, no último dia três, revela miopia política e sectarismo inconsequente.

Pois não se dificulta a implementação da agenda ultraliberal — antinacional e antipopular, incompatível com a democracia — e muito menos se a interdita, sem uma posição com o desenho revelado no ato acontecido no Tuca, em São Paulo.

O povo brasileiro vem pagando muito caro pelas consequências dessa concepção tática estreita e atrasada — para citar o período mais recente, do impeachment da presidenta Dilma à eleição de Bolsonaro.

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