E as queimadas continuam

Conforme eu previ no artigo Cerco sobre Amazônia (Vermelho, 27.08.2019) as queimadas tendiam a recrudescer em decorrência da política predatória do governo e do “veranico”, fenômeno meteorológico natural que se caracteriza por baixa precipitação e elevada evapotranspiração. Os dados atuais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) confirmaram essa assertiva. Indicam que o Brasil já ultrapassou 121 mil focos de queimadas, o maior índice desde 2013.

Esses 121.037 focos de queimadas estão assim distribuídos, em percentuais: 48,7 na Amazônia; 34 no Cerrado, 9,4 na mata Atlântica, 4,936 no Pantanal, 3,60 na Caatinga e 1,057 nos Pampas.

Como se percebe, não é possível resolver adequadamente políticas públicas com bravatas e muito menos com retaliação a quem cumpre o dever de divulgar os dados sob sua responsabilidade, como aconteceu com o Diretor do INPE, Dr. Ricardo Galvão, punido por cumprir com zelo o seu dever profissional. É preciso deixar claro que quem comete crime não é quem revela que a Amazônia e os demais biomas estão sendo destruídos, mas sim quem pratica e/ou acoberta tais crimes.

Bravatas e xingamentos servem apenas para satisfazer a legião de áulicos. Se prestam tão somente a táticas diversionistas. Jamais serão suficientes para resolver um impasse que, em última análise, depende de ciência e tecnologia. Recursos tecnológicos, aliás, que o Brasil dispõe plenamente, mas, infelizmente, não é acessível à maioria dos produtores rurais, especialmente os de base familiar.

Contra as queimadas é possível mecanização, técnicas agroecológicas, desenvolvimento de sementes crioulas, verticalização da produção e agregação de valor à matéria prima, bem como espaços adequados de armazenamento e comercialização direta produtor-consumidor.

Tudo isso, todavia, exige mais estado e não menos estado, como os prepostos do império americano e dos banqueiros, nacionais/internacionais, tentam impor ao país, preocupados única e exclusivamente com as suas taxas de lucros, cada vez maiores, enquanto o povo fica cada vez mais pobre.

Ademais, é preciso atenção especial no papel do Brasil quanto ao fenômeno das queimadas no conjunto dos demais países com os quais temos biomas similares. Segundo dados oficiais do INPE (setembro de 2019) o Brasil lidera disparado esse ranking.

Os dados oficiais indicam a quantidade de queimadas de cada país: Brasil 121.037, Bolívia 27.572, Venezuela 26.836, Argentina 18.828, Colômbia 14.741, Paraguai 14.637, Peru 9.516, Chile 3.015, Guyana 939, Equador 584, Uruguai 476, Suriname 180, Guyana Francesa 13 focos.

Novamente, sozinho, o Brasil é responsável por mais de 50% de todas as queimadas produzidas por esse conjunto de país. Fica evidente que o governo não vem fazendo o “dever de casa”.

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