A casa-grande não quer perder privilégios

Secularmente, em todo o mundo, e no Brasil em particular, o senhorio sempre manteve os seus faraônicos privilégios a ferro e fogo, passando por cima de quem ousar tirar-lhe sequer um naco do que sempre acumulou injustamente. Mesmo com o fim oficial da escravidão, a senzala continua a amargar os horrores que lhes são impostos pelos que ainda detêm o poder.

Tendo sempre a mentira como sua principal arma, utiliza a sua mídia e suas agências de notícia para enganar e manobrar as consciências a tal ponto que consegue até fazer os de baixo enaltecerem o seus algozes, tornando vilões em heróis e heróis em vilões. Até pouco tempo pobre não votava em pobre, e só depois do rotundo fracasso do neoliberalismo tucano é que o Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o voto dos de baixo, elegendo-se presidente da República depois de quatro tentativas.

Mas este quadro começa a mudar e a senzala já não mais aceita pacificamente o açoite. Isto no Brasil e em toda a América Latina. Em Cuba, há mais de meio século a casa-grande foi destruída; na Nicarágua, o quadro já não é o mesmo de antes; na Venezuela, Bolívia, Uruguaia e Argentina a direita deixou de reinar absoluta. Mesmo mantendo em suas mãos os principais veículos de comunicação, já começa a sentir que o monopólio da informação já começa a dar sinais de cansaço.

Na Venezuela, depois do fracassado golpe de Estado que tirou Hugo Chávez do poder por dois dias, o povo descobriu que a sua principal emissora de televisão, a RCTV, era a sua principal inimiga. Tanto assim que ela não teve a concessão renovada. Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner conseguiu aprovar no Congresso Nacional uma nova Lei de Meios que entrará em vigor no próximo dia sete de dezembro pondo fim ao monopólio da mídia e o fim da propriedade cruzada. Para se ter uma ideia, somente o ultradireitista grupo Clarim, que apoiou o golpe de Estado e a sanguinária ditadura militar que matou mais de 30 mil pessoas, detém mais de 200 canais de TV a cabo e é apresentado como imprensa independente.

Quando se fala em novo marco regulatório, em democratizar a comunicação, o senhorio alardeia que se trata de querer impor a censura, batendo de frente com a Constituição da República que estabelece, em seu parágrafo 5º do artigo 220, que “Os meios de comunicação não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.

A campanha midiática contra a democratização da informação é feita à exaustão por toda a velha mídia conservadora, venal e golpista diuturnamente, contando com uma vasta gama de jornalistas amestrados e colonizados que fazem o jogo do baronato da mídia em troca do emprego e de 30 moedas. Essa gente não tem pejo. Para citar apenas um exemplo, com chamada de capa na última sua edição, a revista Época dedicou quatro páginas para dizer que a presidente argentina quer calar a “imprensa independente” daquele país. É oportuno enfatizar que a ONU – Organização das Nações Unidas – considerou a Lei de Meios aprovada pelo Congresso argentino um exemplo para o mundo. Isto a velha mídia omite.

O desprezo do senhorio pelos de baixo não tem limites. Quem não lembra do racista Bois Casoy humilhando dois garis por desejarem feliz ano novo no réveillon de 2009? Sem saber que o áudio estava ligado durante o intervalo do Jornal da BAND e que ganhou as redes sociais, o falso moralista soltou esta “pérola”: “Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”. Ele comentava com o seu colega Joelmir Beting que reza pela mesma cartilha conservadora.

Sentindo-se humilhado, ultrajado, um dos garis, senhor Francisco Gabriel de Lima entrou com ação na Justiça contra esse que é uma das vergonhas do jornalismo brasileiro e contra a própria TV Bandeirantes. Quase três anos depois, a Justiça condenou a Band e Boris Casoy a pagarem R$ 21 mil ao profissional que se sentiu ofendido.

A desfaçatez do senhorio é tamanha que ele quer transformar o gari ofendido em vilão. A família Saad, proprietária do Grupo Band protestou contra a decisão da 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo e bradou que vai recorrer. Para espanto das pessoas de bem deste País, o advogado da Band declarou que o gari “quer ganhar dinheiro fácil”.

Cadê a “imprensa independente” que não noticia a decisão Judicial de condenar o grupo midiático e o preconceituoso jornalista a indenizarem o trabalhador por danos morais? Onde estão os colonistas e demais amestrados que não protestam contra a cretinice desse advogado que quer transformar o herói em vilão?

Esse Boris Casoy é uma vergonha!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor