As dores do parto no renascimento do Brasil

No dia 25 de fevereiro deste ano, Lula nos brindou com um importante artigo publicado no Valor Econômico, intitulado “Por que o Brasil é o país das oportunidades” e pouco difundido no restante da grande mídia. O texto lançou luzes sobre as dores do parto provocadas pelo renascimento de uma imensa e complexa nação.

Como bem disse Luis Nassif, comentando esse mesmo artigo, é forçoso entender que “hoje em dia, tem-se um país fundamentalmente diferente do país de oito, ou 11 ou 20 anos atrás. A escala é outra, a maturidade é outra. Mais importante: os problemas são outros. A arte do desenvolvimento é resolver velhos problemas e gerar novos, que, sendo resolvidos, gerarão novos saltos de desenvolvimento e novos problemas.”

No artigo de Lula, os números falam por si e impressionam em todos os aspectos: alcance, progressão, amplitude, intensidade e, sobretudo, gigantismo dos resultados alcançados. Vejamos alguns exemplos.

“Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. (…)”

“Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB. (…)”

“Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média (…)”.

“Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? (…)”

“Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência? (…)”

“O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. (…)”

“Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo? (…)”

“Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade? (…)”

“Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação. (…)”

“E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade? (…)”

“Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população? (…)”

Hoje as exigências são outras. O povo quer e merece mais. As cobranças das ruas são salutares, mas precisam ser bem conduzidas pelas forças sociais mais progressistas e democráticas para não servirem ao propósito daqueles que propugnam justamente o contrário, ou seja, o retrocesso das conquistas.

Tudo isso é ainda mais difícil e complexo tendo em conta o que nos alertava João Amazonas: “Não é fácil abrir caminho à nova concepção. A burguesia não apenas detém o predomínio de sua ideologia, como domina os instrumentos de divulgação e defesa dessa ideologia”

A cada nova conquista dos trabalhadores – tal como o parto após uma longa gestação de lutas e pressões sociais -, surge a necessidade de se reinventar o Estado para gerar os novos embriões das mudanças que, uma vez mais, terão uma conturbada gestação e um doloroso parto. E essa reinvenção do Estado, por si só, é o maior e mais complexo dos partos. Apressar o nascimento deste processo pode abortar a causa dos trabalhadores.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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