Indo embora

Foram quase cinco anos de Brasília. Posso dizer que foram os anos mais interessantes de minha vida. Local onde experimentei todos os tipos de sentimentos. Onde descobri o valor de muita coisa. Saio de Brasília com o coração partido. Com a sensação de missão cumprida. Pronto para outra missão, mais um salto.

Sou um tipo que se percebe fácil. Opiniões fortes, um tanto quanto elaboradas. Certa capacidade de escuta e trato. Muitas vezes falo o que penso e sinto. Já fui mais genioso. Quando não dá para ser assim, pelo menos deixo subentendido. Se estou feliz, estou feliz. Caso contrário, todos saberão. Meu sorriso não consegue usar máscara. Nem meu choro. Não sou preso ao solo. Me prendo a objetivos e tento, só tento, viver o momento. Intenso em tudo que faço. Em tudo que sente. Convicto até à medula. Louco por ciência e conhecimento. Às vezes sinto um pouco de medo no novo, principalmente quando o assunto é comida.

Misturar Lênin com Che Guevara. Coração quente e cabeça fria. Objetivo de difícil alcance. Vou até o fim. Não acredito em “bem” e “mal”, prefiro ficar com a noção de processo histórico. Por isso gosto de uma polêmica, um bom debate e combate. Sentir a dor da dialética na cabeça, na alma e no coração. Tirar consequência das coisas. A dor da dialética é a dor da síntese e do empurrão para a mudança. E mudar não é fácil. Assim, me recolher ou deixar claro certas coisas.

Tudo isso são sentimentos que experimentei ao extremo na capital federal. Parece que vivi cinquenta anos em cinco! Convivi com uma parte do poder, com algumas mentes que tocam essa cidade e esse país. Fixei-me num objetivo e o alcancei. Fiz amigos, solidifiquei amizades verdadeiras e honestas. Passei por sabores e dissabores. Passei horas estudando as mesmas coisas e de vez em quando coisas diferentes. Brasília e as circunstâncias foram a Praça da Sé na minha vida. Marco quase zero do país e do meu coração.

Enquanto escrevo, me emociono ao vivenciar – em mente – tudo que ocorreu a mim por aqui. Todas as emoções, vitórias e óbices. Sabor de ponte. Como me fez bem viver e ver este lugar em cada minuto. Como disse mais acima, “não sou preso ao solo”. Dose de inverdade, pois já estou sentindo na pele o gosto amargo da despedida, mesmo que breve. Meu coração em pedaços, muitas vezes me impede de olhar horizontes e possibilidades. Imensas possibilidades. Sou esse cara! Quando me permito, só quando me permito, sou mente e adrenalina a serviço da completa razão e do conhecimento.

Mas, sou todo coração! E deixo uma grande parte dele na capital do meu país. Dor, sofrimento? Se misturam, sim. Que o caráter continental do meu país faça com que deixe boa parte desta mistura fique para fora do avião que me levará ao meu próximo destino, o Rio de Janeiro. Mas, por um bom tempo sentirei que algo está faltando. Natural? Não sei. É o que dizem. A todo momento sentirei falta desta algo que foi tão interessante e intenso. O amor pousou em meu coração no centro do Planalto Central. Aqui também aprendi o valor da sobriedade, da “cara limpa” e de mais 24 horas de paz e serenidade.

Só posso prometer descarregar toda essa energia para formar grandes mulheres e homens a serviço do Brasil na Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Me desdobrar para alavancar minha capacidade de compreensão de fenômenos econômicos e sociais complexos. Preparar-me para outro nível de debate. Militar no PCdoB, fazer o meu possível para o que muitos acham impossível seja algo que vá além da tese e se transforme em realidade. Resumo a minha existência ao sentido de lutar e defender o socialismo como uma necessidade histórica.

Do Rio de Janeiro parti no final de 2009 e para lá volto neste momento. Brasília foi uma linda ponte que abriu possibilidades. Só tenho a agradecer por tudo. Obrigado por você existir e mostrar a mim mesmo que posso ser um cara melhor a mim e a outra pessoa. Mesmo de longe me reservarei a continuar escrever minhas cartas de amor, minhas crônicas e poesias sem regras. As guardarei comigo, no fundinho do baú do meu coração. Às vezes vou chorar de lembranças e sentimento. A todo o momento, em todos os momentos estarei sentindo falta de algo…

Hora de ir embora. Encontrar o meu destino e sentir uma ponta de esperança no meu coração de que o meu destino não deixe de ser o meu destino. Acaso e destino não existem? Não, não existem. São construções humanas, logo devem ser vistas historicamente. E minha história em Brasília foi a história de uma completa re-história. A hora é de ir embora, sem olhar para trás. Melhor, sempre darei uma olhada no retrovisor e piscarei para Brasília, para você. Indo embora. Cheio de sonhos e projetos. Mas uma grande parte de mim dificilmente deixará de te amar. E pensar em você, nos nossos momentos e nos momentos mais importantes da minha vida daqui por diante. Você estará presente em todos eles.

Para você deixo esta música. A música que sempre cantorolei, mesmo baixinho, a mim mesmo. De um Eric Clapton que tem muito de mim nele. E nele em mim. “Se eu pudesse alcançar as estrelas, traria uma pra você”. Diz tudo.

Change the word (Eric Clapton)

If I could reach the stars
Pull one down for you
Shine it on my heart
So you could see the truth
That this love I have inside
Is everything it seems
But for now I find
It's only in my dreams

That I can change the world
I'd be the sunlight in your universe
You'd think my love was really something good
Baby, if I could change the world

If I could be king, even for a day
I would take you as my queen
I would have it no other way
And our love would rule
This kingdom we have made
Till then I'd be a fool, wishin' for the day

That I can change the world,
I would be the sunlight in your universe.
You would think my love was really something good,
Baby if I could change the world.
Baby if I could change the world.

That I can change the world,
I would be the sunlight in your universe.
You would think my love was really something good,
Baby if I could change the world.
Baby if I could change the world.
Baby if I could change the world.

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