Ferguson expõe EUA

“Ferguson, Missouri, está neste momento sob ocupação militar e o mundo inteiro está vendo horrorizado como a polícia militarizada disparou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes desarmados. Lamentavelmente, este é apenas um prenúncio do que espera os Estados Unidos nos próximos anos. 

Como a economia descamba e o povo se torna mais faminto e mais frustrado, vai haver muitos levantes populares como os de Ferguson. Como resposta, o governo federal e nossa polícia militarizada vão tentar conter esses levantes com o uso crescente da força.”

A previsão, citada semana passada em artigo do jornalista cubano Manuel Yepe, bem poderia ser dele mesmo ou de qualquer um de nós, que estaria de bom tamanho. Mas é do jornalista estadunidense Michael Snyder, e foi publicada no seu blog “American Dream” (Sonho Americano), que fala de seu país.

As manifestações das últimas semanas em Ferguson, com mortes, são, em verdade, a ponta de um iceberg que está para emergir. Apesar de o país ser hoje governado por um negro, o recado das ruas é resposta a ações oficiais que ferem os direitos humanos em várias partes do país. E tendem a se avolumar.

Da mesma forma, crescem e se espraiam as manifestações de rua. No último sábado, já chegaram com força a Nova Iorque, um sinal de que em breve serão vistas de costa a costa, na proporção em que a crise econômica, com seus graves impactos sociais, é sentida em todos os quadrantes do seu território.

As querelas raciais, que envolvem logo de cara as comunidades de afrodescendentes, são as primeiras que aparecem. Mas, é sempre bom lembrar que no quesito direitos humanos o governo de Barak Obama tem deixado algumas lacunas marcantes. São decorrentes de fortes pressões internas, quase sempre silenciosas, mas que agora são expostas pelos conflitos de rua.

Assim, reaparece também a questão do enclave que os EUA mantêm em Guantânamo, Cuba, onde estão enjaulados, sem julgamento, presos políticos de várias origens, na maioria árabe.
Esses presidiários são acusados de suposta atividade terrorista em várias partes do mundo, em especial no Oriente Médio e na Ásia. Eles nunca foram submetidos a qualquer julgamento em que possam pelo menos fazer suas defesas, uma regra básica dos direitos da cidadania, tão alardeados pelos estadunidenses.

Ademais, chamam a atenção do mundo inteiro as condições em que os detentos são mantidos no verdadeiro campo de concentração ali existente. Eles não têm acesso a familiares nem a advogados. Estão completamente isolados, sob pesada vigilância das forças armadas dos EUA.

A base estrangeira em solo cubano está junto à cidade de Guantânamo, que é conhecida mundialmente por relatos históricos ou mesmo por músicas como a “Guantanamera”, muito tocada por aqui. O acesso dos ianques pode ser por mar, já que a base está bem na costa, mas o meio mais usado é o aéreo, por helicópteros e aviões.

O governo de Cuba engole essa indigesta presença há décadas, para não entrar em conflito armado com os gringos. O presidente Obama se comprometeu desde a sua primeira eleição a dar um fim ao enclave, mas os anos vão passando e nada acontece.

Isso, sem falar em territórios total ou parcialmente ocupados por forças estadunidenses em outras partes do mundo, onde o pau come solto. Longe dos olhos dos organismos internacionais de direitos humanos e das lentes da mídia, essas ações apenas se somam ao que ocorre nos limites do próprio território ianque.

Na medida em que as contradições internas afloram com mais intensidade, contudo, também o belicismo sustentado pelo poder central tende a enfrentar reações mundo afora. Mesmo que os conflitos internos sejam os que mais incomodem Washington.

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