O Brasil não está à venda
O Brasil, constituído sob um condicionamento político e econômico tardio e dependente, acumulou um passivo de múltiplas dimensões, sobretudo as defasagens sociais típicas de uma nação em desenvolvimento.
Publicado 01/09/2014 14:27
Tais circunstâncias históricas repercutem até hoje no padrão de nossa evolução. Um estágio ainda socialmente desigual e com uma base produtiva, mesmo que diversificada, com excelências pontuais.
Essa condição não se formou por uma destinação divina ou pela natureza. Ela é a resultante das lutas que demarcaram os ciclos civilizacionais do nosso país, principalmente o segundo de 1930. Uma batalha até hoje inconclusa.
Por isso, as forças políticas, que outrora disputaram sobre qual projeto o Brasil deveria caminhar, se ré enfrentam atualmente e sob novas circunstâncias a mesma pauta está em jogo.
Uma virada
O país quando governado pelo PSDB-DEM de Fernando Henrique retrocedeu à república velha e foi colocado não apenas como uma grande fazenda abastecedora agrícola do mundo, mas também como mero quintal dos ditames do mercado financeiro internacional e seus acéfalos. Não à toa o FMI e o Banco Mundial ditavam as regras por aqui durante esse período. Esse consórcio financista dirigiu o país através das chamadas cartas de intenções, todas maléficas ao povo e ao patrimônio nacional. Foi a era das privatizações.
Apenas em 2002, o país alcança uma virada histórica e elege, pela primeira vez, um operário à Presidência da República. Luiz Inácio Lula da Silva descortinou um novo ciclo político, econômico e social para o povo brasileiro. O êxito alcançado criou as bases para o mesmo projeto eleger, pela primeira vez, uma mulher para conduzir uma nova etapa. Dilma Rousseff é a expressão máxima da capacidade das mulheres brasileiras e a que reúne as melhores condições para introduzir o nosso país a um soberano e próspero terceiro ciclo civilizacional.
Reside contra essa perspectiva a ira e o ódio de classe da elite brasileira contra a Dilma. A frase dita por um de seus importantes integrantes, o banqueiro Jorge Bornhausen – o mesmo que hoje lidera e financia a candidata Marina Silva – é revelador desse preconceito: “Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos”.
Portanto, a eleição presidencial deste ano é o desenvolvimento histórico entre essas visões que disputam o futuro do Brasil. São os dois e únicos polos sobre os quais se galvaniza essa batalha eleitoral.
O pragmatismo e suas aparências
As campanhas eleitorais assumem, cada vez mais, o pragmatismo, a difusão eletrônica e o insuficiente debate programático. A forma tem se tornado o foco em detrimento de estimular o conhecimento da essência das propostas. A antidemocrática legislação eleitoral em vigor e um sistema midiático oligopolizado e desregulado são as promotoras maiores desse “espetáculo”.
As forças políticas, já anteriormente identificadas com o conservadorismo, aproveitam-se disso e fogem do debate de ideias. Eles afrontam a inteligência popular e tentam criar um clima em que baste apenas especular genericamente o que fariam.
Evitam identificar seu lado e não explicitam como realizarão concretamente as propostas apresentadas. Ou seja, fogem de apresentar o como fazer.
Os anseios populares é uma constante
O povo escolheu Lula em 2002 sob grandes expectativas mudancistas e teve as suas condições sociais e econômicas melhoradas, mesmo que ainda permaneçam importantes lacunas. Esse legado também foi responsável por eleger a presidenta Dilma, mas não apenas por isso. Esteve presente o sentimento de obter mais mudanças e a ela foi dada a tarefa de realizá-las.
Mesmo que inserida numa das maiores crises capitalistas da história – desconhecida pelos populares – a presidenta Dilma realizou importantes avanços desenvolvendo o atendimento à base de nossa pirâmide social e a infraestrutura do país.
No entanto, mesmo no curso dessa histórica mobilidade social, o clamor por novos anseios continua e tornou-se uma constante. Faz parte da aspiração humana e, particularmente numa nação com defasagens sociais múltiplas.
Aproveitando-se desse contexto, os presidenciáveis opositores artificializam e insuflam sob a liderança da grande mídia o imaginário popular à descrença generalizada e a falta de perspectiva. Buscam atrair para si o papel de executar suas falsas teses pelas mudanças.
Precisamos disputar a esperança popular em torno de quem tem autoridade e capacidade de alcançá-las, pois quem fez uma gestão mudancista já comprovou que é capaz de continuar avançando a passos mais rápidos, com mais mudanças e mais conquistas. A presidenta Dilma Rousseff, com esse legado, é a única que apresenta o X da questão: o como fazer.
Marina surfa circustancialmente
É nesse ambiente do discurso genérico – acima do bem e do mal- e do falso moralismo usados como senha de atração às camadas médias que surfa a candidatura Marina Silva. É uma onda circunstancial que enfrentará dificuldades na medida em que consigamos aprofundar os debates de como fazer as propostas acontecerem. Momento em que o sistema financeiro, abraçado por ela, mostrará sua face e o seu riso sádico para tentar eleger um “humanismo monetário”.
Inevitavelmente, para efetivarmos um novo salto capaz de atender as novas aspirações populares, exige-se que rompamos o acordo tácito feito pelo PSDB de Fernando Henrique-Aécio Neves dede 1994 com a banca rentista mundial e local. Desde então os banqueiros elevaram seus já fabulosos lucros.
Apenas a presidenta Dilma reafirma enfrentar esses interesses. Ela tem convicção e autoridade, pois já os confrontou durante sua gestão. Retirou do comando do Banco Central o banqueiro Henrique Meireles, alargou as fontes de financiamento, com taxas menores dos bancos públicos, diminuiu os compromissos com o superávit primário em detrimento dos investimentos estruturantes e chegou a baixar as absurdas taxas de juros do país. Uma luta renhida com idas e vindas, pois os banqueiros chantageiam o país e hostilizam a presidenta. Por isso apostam todas as fichas para derrotá-la.
E para cumprir essa tarefa é fundamental assegurarmos o comando do Banco Central, possibilidade já descartada por Marina e Aécio. Recupero dois depoimentos que dão a dimensão da importância estratégica deste banco:
"Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis”. Mayer Rothschild – banqueiro alemão.
“Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão”.
James Garfield – presidente dos EUA
Portanto, temos que denunciar os candidatos que propõem privatizar esse órgão, tornando-o independente da gestão pública brasileira.
O que propõe Marina e Aécio?
Nunca, na história desse país, uma candidatura em plena campanha anuncia a venda do Brasil. Não é exagero.
O ex-presidente FHC pediu durante sua gestão que esquecessem o que ele tinha escrito. Marina Silva ainda em campanha anuncia na pratica o abandono de seus “princípios imexíveis” e assume de vez a pauta da direita – até então apropriada por Aécio Neves.
Aécio em desespero e com receio de perder a prioridade dos banqueiros, anunciou que se eleito, que Armínio Fraga seria o presidente do Banco Central. Um executivo ultraliberal que administra as grandes fortunas da elite brasileira no sistema financeiro norte-americano.
Já Marina Silva, além de ameaçar a exploração do pré-sal para os brasileiros – fonte de financiamento à educação e à saúde pública – aproveita-se da desinformação popular sobre o assunto e defende a independência do Banco Central, ou seja, entregaria ao mercado financeiro o centro decisório do Brasil. Estaria assim terceirizando o controle de um posto estratégico para o país. Uma temeridade que inviabilizaria até a sua suposta agenda mudancista.
Não é a toa que o comando de sua campanha e da governança de seu programa de governo são dirigidos por personagens ligados ao sistema financeiro. Maria Alice Setúbal é herdeira e defensora dos interesses do maior banco privado do país, o Itaú Unibanco. São interesses antagônicos e o Brasil não merece esse destino.
Em nova fase da campanha eleitoral, o interesse de classe fala mais alto e frações da burguesia – mesmo contrariadas – já se deslocam para tentarem o fim de derrotar o povo, justificando o meio Marina.
Essa possibilidade messiânica e conservadora em torno da candidatura Marina Silva se junta às grandes farsas eleitorais de nossa história e sua repetição seria uma tragédia civilizacional.
Ao povo, a classe trabalhadora, a intelectualidade progressista e aos democratas urgem a realização de uma marcha nacional em defesa do Brasil e contra o retrocesso neoliberal.
Mãos à obra.