São Paulo: o locus da reação antinacional

Temos necessariamente que trabalhar uma realidade objetiva: o governo Lula foi o responsável direto pela retomada da discussão em torno do desenvolvimento nacional autônomo.

Esse é um ponto passivo. Outro ponto que se relaciona com o primeiro diz respeito ao grau de democratização – ainda insuficiente – no nível do debate de idéias. Substanciando, é muito mais tranquilo hoje se ver e ler opiniões contrárias à ortodoxia econômica imposta pelo imperialismo do que na era FHC. Mais um ponto: no nível da subjetividade, é mais visível nas falas, nas roupas, nos slogans de empresas estatais e privadas o orgulho do nacional.

Mas e no campo das idéias? Por que da mesma forma que em 1932, em 1964 ou 1989 a reação é capitaneada pelo mesmo lugar? Por que inclusive o pensamento dito avançado ou influenciado pelo marxismo (ou marxismos) a resistência a qualquer coisa que se relacione à desenvolvimentismo ou nacionalismo é taxado das piores coisas?

São Paulo e Xangai

Não precisamos ir muito longe para descobrir o porque de São Paulo historicamente conter os germes da contra-transformação. Em São Paulo desenvolveu-se a economia escravista em larga escala; em São Paulo os usos e costumes da atual classe dominante são herança de usos e costumes de senhores de escravos. Em São Paulo não se desenvolveu uma agricultura voltada para o mercado interno, muito pelo contrário, aqui as câmaras de comércio de café eram o meio termo entre a produção, a exportação e a importação criando condições objetivas para o surgimento de uma elite ao mesmo tempo parasitária e antinacional. Daí Getúlio Vargas a frente da Revolução de 30 representando os interesses do latifúndio feudal voltado para o mercado interno ser contraposta por citada elite que prontamente colocou-se à disposição do imperialismo inglês contra o processo de industrialização do Brasil. Mesmo na China pré-revolucionária, a única parcela da burguesia que não se uniu ao Partido Comunista da China na luta contra a ocupação japonesa e contra o Kuomintang era oriunda de Xangai: porto aberto a mais de duzentos anos. Sua chamada burguesia compradora, semelhante nos hábitos e costumes aos comerciantes paulistas investiram contra a revolução e o destino dela em 1949 não poderia ter sido outro. A ilha de Taiwan.

Ao contrário da Argentina onde sua revolução de 30 foi cooptada pela Inglaterra em troca da abertura do mercado inglês para seus produtos primários, a bem do Brasil a contra-revolução de 32 foi sufocada e o nosso país nos 50 anos vindouros transformou-se na 8° economia mundial. Mesmo assim a guerra não havia terminado.

Marxismo paulista

No campo da política o imperialismo vence uma batalha em que o governo de Jango é deposto e substituído por um clone do imperialismo. O legado de Vargas estava virtualmente derrotado, porém a retomada do crescimento econômico (milagre) aliada ao fator da grande liquidez internacional proporcionou ao Brasil no final da década de 70 dispor de uma completa indústria de base (indústria mecânica). Indústria esta que era o sonho de Vargas para o Brasil.

De São Paulo jorravam teses de mestrado e doutorado de marxistas atribuindo as piores coisas ao legado varguista e ao populismo em favor da radicalização da democracia e de um Estado de bem estar social, denuncias vazias da existência de burguesia associada sem maiores explicações acerca do dinamismo industrial brasileiro, etc. Sem citar as críticas ao nacionalismo do ISEB e outras impublicáveis geralmente financiadas pela Fundação Ford (FHC e sociologia da USP). De certa forma o golpe de 64 para os marxistas de São Paulo foi bom para colocar termo ao legado varguista e ruim por limitar as liberdades democráticas.

Não é a toa que FHC, ex-professor da USP e marxista para muitos concentrou forças durante seu democrático governo no aniquilamento de nossa burguesia industrial ganhando a população para o corolário do combate à inflação a partir da abertura comercial, do livre-cambismo e outras aberrações. E o marxismo paulista continua a disparar contra o nacionalismo, a grande produção na agricultura, o populismo, a China, etc. Sem falar que daqui a hipótese de feudalismo no Brasil foi enterrada. Talvez seja mais fácil entender o processo que vai da substituições de importações ao capitalismo financeiro brasileiro pela mão teórica do modo de produção escravista colonial. De forma que se abstraia a existência na fazenda de café tanto do escravismo em vias de decomposição quanto da economia natural (uma das condições objetivas da servidão da gleba).

Já que o problema principal não é a dominação estrangeira, para que estudar a formação social brasileira impulsionada pelos ciclos longos emitidos pelo centro do sistema mundial? Assim fica fácil o monetarismo deitar e rolar nas análises econômicas produzidas no Brasil.

Geraldo Alckmin: a expressão da reação

Uma formação social reacionária aliada a um marxismo produzido na universidade criada para o combate ao projeto nacional-desenvolvimentista só poderiam se tornar condições objetivas para o fortalecimento da direita mais racista, podre e antinacional. As casas de comércio situadas na Avenida Paulista foram substituídas por sedes de bancos nacionais internacionais, drenadores de riquezas produzidas no país ao exterior. O malufismo, imagem e semelhança de uma classe média produzida durante o regime militar transformou-se com maquiagem e tudo em essência do discurso que diz lugar de bandido é na cadeia, hoje alojado no PSDB.

A burguesia compradora paulista alçada aos céus do poder dela retirado com a revolução de 30 esbalda-se na Daslu inaugurada por Geraldo Alckmin e gerenciada pela sua filha. A outrora extrema-direita religiosa em marcha contra o perigo do comunismo em 1964 (quem acabou com a instituição família não foi o comunismo e sim o capitalismo!!!), hoje traveste-se em livros de auto-ajuda de um menudo da Opus Dei no governo Alckmin. Enquanto isto parcela significativa dos marxistas da academia paulista continuam sua jihad contra o desenvolvimentismo, o populismo, o nacionalismo e o governo Lula.

Triste país com uma elite regional e uma esquerda acadêmica tão danosos aos interesses nacionais e populares.

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