É Natal, e entrar numa livraria não é uma tarefa simples

Chega um tempo em que nos obrigamos a entrar numa livraria. E digo entrar numa livraria como adulto, na posse de algum dinheiro acompanhado do desejo em comprar um daqueles livros expostos. E os motivos que nos levaram a entrar, podem ser desde a curiosidade pelo colorido das capas como para fazer tempo enquanto esperamos a esposa no cabeleireiro, ou até a imperiosa busca de respostas para nossas constantes dúvidas.

A gente entra desconfiado, olhando para diferentes lados, demostrando toda possível e boba insegurança, pisando leve no piso duro, ou esquivando-se das prateleiras, que nos chegam ao peito, ameaçadoras, ou nos fazendo erguer o queixo, a olhar para a mais alta posição na loja, onde, mesmo assim, estão guardados mais e mais livros, feito inatingíveis arranha-céus em metrópole mundial.

Repentino nos interpelam, "posso ajudá-lo?", e num piscar nos defendemos, "Só olhando", ela ou ele, o atendente, analisa os gestos tímidos, acuados, "Se precisar estou à disposição, junto ao balcão". Agradecemos num grunhido. Não há porque alardear nossa própria voz se a atendente ou o atendente desconfiam da resposta.

O relevo nas inúmeras capas pede que deslizemos as mãos, sentindo o frio toque aveludado e o singelo brilho nas pontas dos dedos, como se lessem, ao melhor método braile, o que promete cada palavra nas lombadas e contra-capas. Não é surpresa perceber certo odor que não do ar gélido e condicionado da loja sem janela para a rua.

As veredas de livros se bifurcam ao nosso passo de cliente, e borgianamente se abrem e em seguida se encerram. Sobem altivas para declinar abarrotadas. E prosseguimos, confessando a si mesmos, "o que vim fazer aqui?". Livros e mais livros, fotos curiosas, títulos e autores nunca vistos, gente brasileira, gente estrangeira, títulos que não entendemos e não tentamos entender. Afinal há mais, muito mais a se ver, a se confundir.

Mas quase Natal pode ser também quase férias, aquelas férias disfarçadas que se encaixam na nossa pobreza entre o Ano Novo e a data dos presentes. Uma "longa" semana para se ler na praia, ou ler para a filha, ou simplesmente carregar o livro volumoso, deixar embrulhado para presente sob a árvore, e ver a família se perguntar, "nossa, será um livro? Parece pesado, para quem será?".

E a gente sai da livraria com ou sem a sacola plástica e o peso morto dentro. Segue pelo corredor de granito pensando que há tantos livros e tanto que se sabe e tanto que se escreve, que se escrevêssemos, talvez não desse meia página, quiçá um parágrafo.

Sentado na praça de alimentação, esquecido da mulher no salão de beleza, com a sacola fora da vista no banco ao lado, que tudo finalmente se explica: "Garçom, por favor, um café espresso bem forte e um pedaço enorme daquela torta de chocolate meio-amargo. Eu mereço. É Natal."

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