O preço da estupidez

Nos últimos dias o pais assistiu rodovias bloqueadas por caminhoneiros sublevados e, muito provavelmente, devidamente estimulados por empresários do setor interessados no desgaste do governo. Mas o "preço da estupidez" não é a greve e sim a sequência de erros e equívocos cometidos pelos governantes desse pais, em decorrência de seus interesses de classe, no que diz respeito a política de transportes.

A insatisfação dos caminhoneiros é contra uma série de aumento de preços (óleo diesel, pedágios, etc.) e do que eles consideram excesso de rigor na pesagem dos caminhões nas balanças de controle, dentre outros pontos típicos de pautas reivindicatorias.

O primeiro grande equívoco foi a opção pelo transporte rodoviário – o mais caro do mundo – para satisfazer aos interesses da indústria automobilista americana, o que só foi possível graças ao histórico servilismo da burguesia brasileira ao império americano. Os bloqueios rodoviários do presente e do passado não deixam dúvidas quanto a essa estupidez.

Num pais sabidamente de dimensões continentais e dono da maior bacia hidrográfica do planeta, sua gigantesca produção industrial e principalmente agrícola poderia muito bem ser transportada em hidrovias ou ferrovias, os sistemas mais baratos e mais seguro dentre todos os modais de transporte.

A estupidez seguinte foi a "privataria" das rodovias durante o governo de FHC (PSDB), o que fez explodir as taxas de pedágios, objetos do presente protesto.

O próprio aumento da gasolina e do óleo diesel, num momento em que o preço do barril de petróleo desaba mundo afora, é uma contradição e não se justifica sob qualquer hipótese. Ocorreu por aberta pressão dos grandes meios de comunicação para assegurar uma lucratividade ainda maior dos acionistas privados da Petrobras, onde estão alguns magnatas brasileiros e estrangeiros, especialmente americanos.

A próxima convulsão será urbana, nas grandes metrópoles, consequência direta dessa estúpida opção rodoviária em detrimento do transporte ferroviário. A cada dia o transporte público se torna mais caótico nas grandes – e hoje até nas médias cidades – em decorrência do aumento de renda das pessoa e da possibilidade de comprarem automóveis.

Mas, como fica evidente, não há solução para esse caos com soluções individuais, embora se reconheça o legítimo direito das pessoas de tentarem resolver seus problemas. A solução será sempre coletiva. O usuário individual só deixará o carro na garagem quando houver transporte de massas de qualidade: limpo, seguro, pontual, confortável e com preço acessível.

Não creio que isso seja possível sem metrô. No mundo inteiro essa tem sido a melhor opção dentre tantas que já se experimentou para enfrentar o caos do transporte de massas das grandes e até mesmo das médias cidades. Não podemos, mais uma vez, perder o senso de oportunidade e de compromisso com o povo e não com os empresários americanos.

E o governo não pode ter ilusão com os grandes meios de comunicação. Eles respondem ao comando dos "donos" dos meios de produção e servem aos seus interesses. Assim, pressionam o governo para privatizar rodovias e criar pedágios absurdos e ou aumentar o preço dos combustíveis para arrancar mais dinheiro do povo. Mas quando a sublevação explode, eles simplesmente transferem a responsabilidade para o governo.

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