Argumentos do golpe
Sou da geração do golpe de 1964. Pessoas que nasceram no regime militar, algumas, até pegaram em armas contra o autoritarismo. No meu caso, a “arma” foi a caneta nanquim nos cartuns de denúncia à repressão no semanário Pasquim. Para entender melhor, o porquê daquela situação obras como: “O que é isso Companheiro” de Fernando Gabeira, “Lamarca, o capitão da Guerrilha” de Emiliano José & Oldack de Miranda e “Como se coloca a Direita no Poder” de Paulo Schilling foram leituras obrigatórias.
Publicado 03/03/2015 11:31
Schilling em “Como se coloca a Direita no Poder” de quase 40 anos atrás, por exemplo, mostrava em dois volumes, protagonistas, acontecimentos e os bastidores do golpe de 1964. Impressiona a semelhança dos cenários que vivemos hoje no qual, fatos e personagens mudam apenas de nome e, às vezes de métodos, porém, a motivação continua a mesma, uma pequena elite política e econômica quando se vê ameaçada de seus privilégios se utilizam da manipulação de informações e até mesmo da força para retornar ao poder.
O golpe de 1964 ganhou as ruas com manifestações como a Marcha da Família contra o que chamavam de ameaça comunista, fato parecido com a manifestação programada para o próximo dia 15, onde os argumentos e estratégias até se assemelham aos de 50 anos atrás, como o combate a corrupção e pela defesa da moralidade.
A questão é, que mesmo com a deposição do presidente João Goulart, 20 anos de autoritarismo, direitos sociais supridos, congresso, sindicatos e todas as organizações sociais fechadas e com a direita no poder, a corrupção só aumentou nesse período com um adendo que foi a forte repressão e censura política no qual, poucos tinham acesso a informação sobre o que acontecia com o Brasil.
O país foi entregue por essa gente com a maior inflação de todos os tempos, com uma recessão e desemprego nunca antes vivenciado e com a maior dívida externa do planeta, todos, problemas sanados exatamente pela geração de políticos que essa elite tenta varrer da vida pública
brasileira. Isso, com os mesmos argumentos de 1964.