Convite a um bon vivant

Aécio Neves, o mesmo que quando foi governador de Minas Gerais teve a desfaçatez de impedir o acesso ao povo às solenidades da maior festividade dos mineiros, o 21 de abril na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, ousou em dizer na última quinta-feira (11) que a presidenta Dilma está “sitiada” e que ela “não pode mais andar pelas ruas do país”.

Enquanto Aécio fazia essa provocação, Dilma andava por Rio Branco, capital do Acre, sendo saudada pela população local que ainda contabiliza os prejuízos da maior enchente já registrada. Ironicamente, quando o Vale do Rio Doce sofreu com as maiores inundações da história de Minas Gerais, Aécio podia ser visto apenas de binóculos, sobrevoando de helicóptero algumas das cidades mineiras atingidas.

Caso Dilma baixasse seu nível ao mesmo patamar de Aécio, poderia convidá-lo a medir sua popularidade e caminhar com ela nas regiões que secularmente foram olvidadas pelos governos de direita. Que tal se Aécio subisse o Alto Vera Cruz em Belo Horizonte? Ou se visitasse Brasília Teimosa em Recife? E se caminhasse pelos becos da Rocinha ou no chão trincado do semi-árido nordestino? Acontece que Aécio, como bon vivant que é, costuma andar por outras praias e jardins, e não tem noção do carinho que o povo nutre pelos governos que priorizam os mais pobres.

A postura de Aécio não combina com a de um Senador da República e muito menos a de um postulante ao cargo mais importante da nação. Foge do grande debate para se esconder permanentemente em meio à fumaça de frases prontas e picuinhas. Baixa o nível ao ponto de chamar a presidenta Dilma de “estelionatária” por supostamente não cumprir algumas de suas promessas e ainda cobra dela um pedido de desculpas pelo aumento nos preços dos combustíveis e na tarifa da energia elétrica.

Uma vez mais é forçoso convidá-lo a revisitar o passado recente, dois anos atrás para ser mais preciso, quando ele próprio e o seu partido cobravam de Dilma justamente o contrário, ou seja, os reajustes nas contas de luz e dos combustíveis. Naquela época o pretexto utilizado era a defesa dos acionistas e investidores da Petrobras e das companhias energéticas estaduais. Ou seja, o povo estava em segundo plano.

A verdade é que o governo Dilma segurou os reajustes até onde foi possível, mesmo enfrentando uma das maiores secas da história e uma ofensiva privatista e desestabilizadora contra a Petrobras. Mesmo assim, com o salário mínimo tendo atingido seu maior poder de compra desde 1965, é possível colocar quase três vezes mais gasolina no tanque do carro hoje do que na época de FHC. E não passamos por nenhum apagão.

Aécio deve ser convidado ao grande debate. O debate sobre a Reforma Política que combata na raiz os esquemas de corrupção que têm a ver com o financiamento privado de campanha. Deve ser convidado a debater democratização da mídia que não pode continuar refém dos interesses particulares de algumas poucas famílias burguesas (a dele, inclusive) que mantêm o monopólio da informação. Enfim, deve ser convidado a ser mais assíduo ao seu posto de trabalho e romper com esse passado de senador mais faltoso, e contribuir presencialmente com a agenda política do país de forma mais honesta, propositiva e com o mínimo de seriedade.

Enquanto ficar nas querelas e queixumes da vida, sustentando o discurso da intolerância e do moralismo oco e estéril, sua reputação será sempre a de um “bon vivant” , a de um garoto mimado que ainda não aprendeu a superar suas frustrações. O que se espera da direita brasileira e de seus principais representantes é o mínimo de decência moral para pautar a grande política e fazer uma oposição com p maiúsculo, renunciando essa estratégia suicida de atuar no quanto pior melhor.

Enquanto Aécio dizia que Dilma estava sitiada, a presidenta andava no meio do povo.
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