Na chapa quente, fazendo o possível 

A analogia parece exagerada, mas cabe.Sob o tiroteio parlamentar e midiático, para preservar a ordem democrática, buscar a governabilidade e retomar o crescimento do país, a presidenta Dilma e as forças que a apoiam movem-se sobre uma chapa quente. Parar é impossível, o calor sob os pés não permite; movimentar-se é necessário.

E os movimentos precisam se dá na direção certa, abrindo veredas, explorando possibilidades.

As iniciativas que há quase um mês se sucedem – do diálogo com setores do Parlamento, o empresariado e os movimentos sociais, à tentativa de fixar uma agenda mínima de entendimento – são benéficas.

Benéficas e promissoras. Desde que tenhamos (lideranças e correntes políticas verdadeiramente interessados na superação da crise) a dimensão exata da empreitada e da absoluta necessidade de “despojamento” em favor dos interesses nacionais.

No mundo inteiro o mar não está para peixe. As sucessivas desvalorizações do yuan como medida de defesa da economia chinesa e os contratempos das bolsas de valores nos centros mais dinâmicos do capitalismo são como que um alerta de que a crise global se arrasta sem solução, ao contrário do que proclama a mídia tupiniquim.

Enfrentamos no Brasil não apenas, nem principalmente, intempéries decorrentes de nossas vulnerabilidades e erros. O “inimigo” é bem maior, o capital financeiro que nucleia o capitalismo monopolista hoje e determina a economia mundial sob seus interesses. O caso de Aléxis Tsípras, na Grécia é emblemático: venceu um plebiscito com 61%, e dias depois não suportou as imposições da Alemanha e do capital financeiro.

Nesse sentido, literalmente a raposa cuida do galinheiro: os principais causadores da crise têm o comando das iniciativas no sentido de superá-la. Ponto para a usura, para o capital fictício; prejuízo para a produção, o emprego, a democratização da renda, a redução de disparidades regionais e a vida das pessoas.

Dito de outra forma, medimos forças com um gigante que, embora envolto em suas próprias contradições e no mar de impasses que cria, tem o poder.

Nessas circunstâncias, a apresentação da Agenda Brasil pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, a articulação da Frente Brasil Popular (com lançamento previsto para 5 de setembro), por um lado; e por outro, as dissensões no grande empresariado e nas hostes oposicionistas, com o crescente coro condenatório da tentativa de impeachment da presidenta, configuram, no conjunto, uma pauta de oportunidades.

A dimensão da batalha reclama firmeza de propósitos e amplitude e flexibilidade – para juntar forças (ainda que díspares e contraditórias) e superar a crise. Fazendo o possível, sem sectarismo nem preconceito.

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