Pequena contribuição ao debate sobre as Relações Internacionais

O último dia 06 de novembro aconteceu, na sede do Comitê Central uma atividade que reuniu camaradas de diversos estados que atuam em frentes de luta ligadas às questões internacionais: a reunião ampliada da Secretaria Nacional de Política e Relações Internacionais.

Tive a oportunidade de participar como militante que sou do Cebrapaz e escutar as intervenções de alto nível do coletivo, que certamente contribuíram para um salto de qualidade no trabalho partidário desta frente. Aproveito o espaço desta coluna hoje para compartilhar a intervenção que preparei para essa reunião, no intuito de chamar mais camaradas a refletir sobre as questões internacionais.

Camaradas;

Em minha opinião a frente internacional e de solidariedade é parte indissociável daquele conjunto de ações partidárias que denominamos em nossos documentos como “luta de ideias”. Disputar o sentido e o conteúdo das relações internacionais é preparar o povo para atuar e decidir sobre a distribuição do poder e da riqueza no mundo. As nações não são autarquias onde o debate interno se esgota e se basta. A inserção internacional dos países e as relações de poder que daí derivam são decisivas para o sucesso ou o fracasso de qualquer projeto nacional.

Vou demonstrar o porquê a partir de alguns temas atuais, como por exemplo a chamada “crise migratória” que agora agita a Europa. Essa “crise” tem, em minha opinião, um duplo sentido. O primeiro e mais óbvio é que sempre, invariavelmente, as vítimas das guerras são os trabalhadores e o povo simples; e as guerras atingem de forma ainda mais cruel as mulheres e as crianças. O segundo sentido é que a Europa colhe hoje o desespero que ajudou a plantar. A “crise migratória” é resultante dos séculos de colonialismo; da criação de estado artificiais destinados a cumprir um papel geoestratégico desenhado pelas potências coloniais e não pelos povos que os habitam; da espoliação e da agressividade permanente das potências ocidentais, tanto dos EUA quanto de seus cúmplices da Otan.

Denunciar a guerra, apoiar os refugiados, é denunciar a ação do imperialismo no mundo. As nações que agora se desintegram e lançam – literalmente – ao mar milhares de refugiados são as vítimas da ação geoestratégica do imperialismo no Oriente Médio e na Eurásia. Destaco que entendo aqui por imperialismo não apenas um Estado ou conjunto de Estados, mas o consórcio que domina, em maior ou menor medida, o sistema financeiro, as grandes corporações transnacionais e que controla, direta ou indiretamente, a ampla maioria dos centros decisórios do mundo. Um pequeno clube de super ricos que cabe em um hotel de luxo – como aquele que costumam usar para suas reuniões em Davos – e de lá decidem os destinos da riqueza produzida no mundo e por eles apropriada.

A alta finança atua em toda parte por meio de pressões, ameaças e também de maneira mais sutil, cooptando dirigentes e altos funcionários de carreira que passam a defender os interesses financistas por dentro do aparato de estado. Esses altos funcionários “ganhos” pela finança internacional (seja por convencimento ou por vantagens econômicas ou acadêmicas) ocupam papel de destaque em qualquer governo, inclusive em governos progressistas, e é preciso que atentemos para essa nuance da luta de classes dentro do nosso país. O imperialismo atua ainda por outras formas, das quais a face mais dramática é que se mostra no Oriente Médio, onde a estratégia é militar. Porém o desenvolvimento da situação do Oriente Médio, que culmina nas atuais guerras de agressão e financiamento de bandos armados pelas potências imperiais não se iniciou pela guerra explícita. Os acontecimentos que antecederam as intervenções armadas foram muito semelhantes ao que agora ocorre na América Latina, que parece estar na antessala do mesmo processo. Como revelou o agente duplo cubano Raul Capote em 2011 (entrevista em http://www.sul21.com.br/jornal/ex-agente-duplo-conta-como-a-cia-promove-guerras-nao-violentas-para-implodir-governos/ ), a estratégia do “golpe suave”, elaborada por Gene Sharp, vem sendo aplicada pela CIA em todos os países considerados como entraves aos planos do imperialismo.

Trata-se da construção de fundações, grupos e partidos, cuja orientação ideológica varia de acordo com as características dos países, indo da extrema-esquerda à extrema-direita. Esses agrupamentos têm a tarefa de iniciar agitações e insurreições de maneira a espalhar o caos. Não basta “depor” presidentes, é preciso que caiam em circunstâncias caóticas, favorecendo a intervenção política ou militar de potências estrangeiras para “assegurar a ordem” e criar governos títeres.

Foi o que assistimos nas Primaveras Árabes, com o exemplo dramático da Líbia (que levou o governo cubano a decidir revelar ao mundo o trabalho de seu agente infiltrado na CIA, Raul Capote) e, agora, da Síria. Foi também o que assistimos na Ucrânia, onde ascenderam ao poder agrupamentos nazifascistas sob o silencio e a cumplicidade da mesma Europa que foi arrasada pelo nazismo na década de 1940. E parece ser o que assistimos na América Latina nos últimos anos. Todos os governos autônomos e antiimperialistas da região vêm sofrendo desestabilizações nos moldes da “guerra suave”.

Diante desse cenário extremamente perigoso o trabalho de solidariedade e política internacional é central na ação dos comunistas. Tanto na tarefa da luta de ideias como também na construção de frentes de massa destinadas a denunciar a ação do imperialismo e erguer a bandeira da paz dos povos.

Prioritariamente, penso eu, nossa atuação deve buscar fazer a luta de ideias voltada à denúncia do imperialismo e à conquista dos corações e mentes do povo brasileiro para a causa da integração latino-americana. Lembro aqui a formulação do uruguaio Arismendi, para quem “a revolução latino-americana é uma revolução continental e a sua unidade essencial está determinada, primeiramente, pelo fato de que o principal inimigo é o imperialismo norteamericano”. Tanto isso é verdade que, historicamente as nações imperialistas que dominaram o nosso continente (primeiramente a Inglaterra, sucedida pelos EUA) sempre desconfiaram e sabotaram as iniciativas de integração entre os países latino-americanos. Para as nações dominantes foi e é essencial que se priorizem os acordos bilaterais, onde a economia mais forte (a deles) sempre consegue impor cláusulas que lhe são favoráveis – e que costumam arruinar os países mais frágeis. As ações em bloco dos países da América Latina, assim como alianças multilaterais como a do Brics, desafiam o domínio do imperialismo e são, por isso mesmo, iniciativas capazes de abalar o equilíbrio do mundo.

Penso que se não soubéssemos nada sobre as vantagens da unidade latino-americana para o conjunto dos países da região, se não tivéssemos a menor ideia sobre os possíveis frutos de alianças como a do Brics, ainda assim poderíamos ter certeza de que é uma política adequada pelo simples fato de que a ela se opõe, com tanto ímpeto, o imperialismo.
Encerro por aqui. Muito obrigada.

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