Os porquês da escalada fascista

A onda de ódio que se alastra contra tudo que soa progressista na atualidade está muito além do fato de as elites passarem a ter que dividir o assento do avião ou o banco da universidade com os pobres. Certamente isso as incomoda, mas o fenômeno é bem mais complexo.

João Amazonas alertava que nas sociedades capitalistas, tal qual a brasileira, independente de a esquerda ocupar alguns postos importantes na estrutura do Estado, predominam enormemente as velhas concepções burguesas, pequeno-burguesas e mesmos feudais, entranhadas na cultura do povo através de séculos de dominação colonialista e imperialista.

Lembrava, ainda, que “não é fácil abrir caminho à nova concepção. A burguesia não apenas detém o predomínio de sua ideologia, como domina os instrumentos de divulgação e defesa dessa ideologia. Mobiliza a imprensa, o rádio, a televisão, dispõe das universidades e dos centros culturais. Utiliza largamente a religião”. Em síntese, é como dizia Marx “as ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante”. Vejamos alguns exemplos.

O aparato repressivo do Estado, especificamente as polícias militar, civil e federal (além do mercado da segurança privada), é doutrinada desde sempre para ser refratária às reivindicações elementares em torno dos Direitos Humanos. Quando se aumenta a militância envolvida nessa causa pacifista, ainda mais apoiados por um governo de esquerda, entrincheiram-se raivosamente em defesa da manutenção do espírito de que “bandido bom, é bandido morto” e pedem a cabeça de Dilma.

Extensos setores da Igreja, notadamente os mais conservadores, são norteados por um pensamento dogmático, extraído ao pé da letra da Bíblia, em que mulheres devem ser submissas ao homem. Quando surgem feministas questionando o patriarcado e as desigualdades impostas às mulheres, e ainda mais tratando o aborto como questão de saúde pública, todos esses religiosos conservadores rezam a mesma ladainha para excomungar a esquerda herege.

Jornalistas, artistas, escritores e tantos outros “notáveis” que se deliciavam com os holofotes de uma grande mídia concentrada em projetá-los como verdadeiros ícones, passam a se revoltar (conscientemente ou não) quando brota o movimento de democratização dos meios de comunicação, onde uma série de jovens talentos nas diversas áreas começa a se despontar e, a partir daí, disputar idéias e encenações com o padrão “global”.

A maior parte do aparelho judiciário, em que seus membros são acostumados a serem tratados como doutores e afeiçoados a uma justiça burguesa que pesa a mão contra os mais pobres revoltam-se quando se sentem ameaçados por amplas parcelas de uma sociedade considerada desinstruída, mas ávida por isonomia de julgamento, a partir de um governo que patrocina constantemente mais direitos para a população.

Dessa forma, podemos estender essa linha de raciocínio para as mais diversas áreas e segmentos de nossa sociedade. Em todas elas, a capacidade de influenciar a chamada opinião pública é enorme.
Os que estarão nas ruas no próximo dia 13 invariavelmente se enquadram em uma dessas situações. Mesmo que em um passado recente tivessem um poder de compra menor, eram outros fatores clássicos descritos por Maslow que os incentivam a derrubada do governo Dilma.

Em suma, a esquerda está sendo condenada não pelos seus erros, mas pelos seus acertos. E a saída passa por combater os erros que logicamente existem e são muitos, mas, sobretudo, intensificar os acertos sob uma lógica progressista, concatenada com uma estratégia de ampliar o diálogo e não se isolar.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor