Congresso, mostra sua cara

“Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer”
Cazuza.

Dia 17 de abril de 2016 ficará marcado na história por vários motivos.

Um deles como o dia que registrou a maior e mais prolongada audiência na televisão brasileira referente a uma votação na Câmara dos Deputados.

Assim, dezenas de milhões de brasileiros puderam ter uma pequena noção da bizarrice que prevalece nessa casa.

Tantos foram os desatinos, a hipocrisia e o despreparo que chocaram quem não tem o costume ou mesmo tempo para acompanhar o cotidiano de nossos parlamentares.

Talvez a maior injustiça que se pode cometer com o povo brasileiro é dizer que esse Congresso tem a sua cara. O que vimos neste dia 17 de abril não guarda nenhuma semelhança com a nossa brava gente brasileira.

A maioria de nossos representantes simplesmente não nos representa em nada.
Enquanto as mulheres são maioria entre a população brasileira, no Congresso Nacional sua participação não chega a 10%.

Enquanto nove entre dez brasileiros vivem com menos de 2.500 reais, a imensa maioria de nossos parlamentares provém de famílias ricas ou milionárias e com grande influência social.

Enquanto nosso último Censo registra que de cada dois brasileiros um se declarou negro, a percentual de deputados negros é inferior a 20%.

Enquanto a média nacional é de dois médicos por mil habitantes, no Congresso Nacional temos um para cada dez parlamentares. Não há nenhum pedreiro, nenhum empregado doméstico, nenhum gari, nenhum camponês.

Ou seja, nosso Congresso não se parece em nada com nosso povo e está a anos luz de qualquer perspectiva de representar seus autênticos interesses de classe. O Congresso Nacional representa majoritariamente a elite brasileira e se confunde com ela até as vísceras.

Para que o Congresso tenha realmente a nossa cara e o nosso jeito não pode prevalecer o poder do capital. O dinheiro não pode falar mais alto do que as idéias e os projetos políticos.

Levantamento realizado pela Revista Congresso em Foco mostra que os gastos dos candidatos em 2014 ultrapassaram R$ 71 bilhões, dinheiro suficiente para custear por seis anos as 14 milhões de famílias (50 milhões de pessoas) que sobrevivem com recursos do programa Bolsa Família, ou para cobrir todas as despesas com salário e mandato dos 594 deputados e senadores, inclusive assessores de confiança, por sete décadas. Ou, ainda, para bancar quase três Copas do Mundo.

Nessa luta inglória, há de se reconhecer o trabalho daqueles heróis e heroínas, talvez menos de 20%, que se elegem apoiados por suas bases sociais, baseado na militância e na convicção ideológica.
Merece destaque os deputados e deputadas do Partido Comunista do Brasil que destoa de todas as estatísticas acima: 50% de mulheres, oriundos da classe operária e formados política e ideologicamente nos diversos movimentos sociais: estudantil, docente, sindical, da luta pela terra. O PT é outro partido em que a maioria dos deputados de fato representa a diversidade de nosso povo.
Mas são vozes no deserto. Por vezes conseguem formar uma maioria em torno desse ou daquele projeto menos caro à burguesia. As grandes reformas estruturais, de caráter progressista, sempre ficam reféns dessa maioria tosca e reacionária.

E a mãe de todas as reformas, a reforma política, fica subordinada a essa versão brasileira da “Câmara dos Lordes”, na sua maior parte, representantes autênticos dos interesses da burguesia nacional.

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