O mar é agitado

Os últimos 35 anos de história política e social do Brasil, foram muito controversos. Um período de intensos “vai e vens” que deixaria o observador menos atento confuso. Em 1982, todas as forças de esquerda, democráticas e populares, apoiaram os candidatos do PMDB aos governos contra os políticos do PDS antiga Arena, partido que apoiava a Ditadura Militar.

Toda a esquerda menos o PT, que defendia a luta contra todos os “ladrões”, segundo panfletos da época, que no Brasil “todo” lançou candidatos alternativos e o Brizola que no RJ lançou-se e elegeu-se junto com Darcy Ribeiro ao governo.

Em 1983 e 1984 essas forças democráticas, populares e de esquerda novamente se unificaram em torno da memorável campanha das “Diretas Já!”. Embora o PT tenha dela se afastado por conta da perda do protagonismo inicial e o Brizola reticente, por conta de uma estranha “aproximação” com o General Figueiredo, mal aparece nas fotos junto as lideranças do clamor popular.

Após a derrota da emenda das “Diretas”, que ganhou o nome do seu autor Dante de Oliveira as forças democráticas e de esquerda se articularam para derrotar a ditadura por meio do Colégio eleitoral, único recurso disponível para eleger um Presidente civil e com aspirações democráticas.

Assim houve a unidade em torno do governador mineiro Tancredo Neves que se desligou da função para trabalhar sua campanha. Sem forças suficientes no Congresso Nacional a Frente pró- Tancredo articulou uma dissidência no então PDS criando o tal PFL que indicou o José Sarney para vice na chapa do mineiro. Mais uma vez aqui o PT ignorando os esforços e a ausência de força suficiente, negou-se a votar no Tancredo e mais, expulsou de seus quadros a Deputada Beth Mendes (atriz ex-militante da ALN e barbaramente torturada pelo Brilhante Ustra) e o Deputado Airton Soares, que, corretamente, deram seus votos para o fim da Ditadura.

Mas o Tancredo ficou doente faleceu sem tomar posse e em meio a uma comoção nacional assumiu o vice José Sarney, que de início honrou os compromissos democráticos assumidos com setores da esquerda e principalmente espectro central da política nacional. Legalizou os Partidos de esquerdas então clandestinos e convocou as eleições para as capitais após 30 anos de impedimento. Assim, mais uma vez, as forças de esquerdas uniram-se, no geral, em torno de nomes do PMDB. As exceções ficaram por conta do RJ, município em que houve uma nítida divisão por conta das candidaturas de Fernando Gabeira, então pelo Partido Verde e o Saturnino Braga eleito pelo PDT com quase 40% dos votos daquele pleito e em Fortaleza onde o PT, que lançou candidatos (as) em todas as capitais sozinho, sem alianças, elegeu a Maria Luiza Fontenele.

Sob os auspícios do Plano Cruzado, mirabolante projeto que visava atacar a inflação e estabilizar a economia do país, o plano obteve grande apoio popular, por conta dos congelamentos dos preços.

Essa medida obteve grande apoio popular inicial e as eleições de 1986 resultou na vitória no PDMB praticamente em todos os estados brasileiros. Foram 22 eleitos em 23 estados. Quer dizer só em um não conseguiu. Elegeu também a grande maioria dos Senadores e 56% da Câmara dos Deputados ou 260 parlamentares. Este número deu ao PMDB e suas divisões internas, contradições e etc. uma forte liderança na elaboração da Constituinte de 1988, sob a liderança do Ulisses Guimarães.

Constituição promulgada em 1988 e não assinada pelo Partido dos Trabalhadores. Apesar dos seus 8 Deputados, entre eles o Luís Inácio Lula da Silva, o mais votado do Brasil, terem apresentado 122 emendas.

Mas se o paciente leitor acha que as coisas se acalmaram um pouco, cometeu um ledo engano. Aí que as lutas eclodiram. As greves gerais que foram convocadas e mobilizadas em duas ocasiões: novembro de 1986 e abril de 1989. Foram ofuscadas pelos resultados das eleições em 1988, com o destaque para a vitória da Luiza Erundina em São Paulo, tendo como vice o advogado de presos políticos Luiz Eduardo Greenhalgh. Mas também em várias cidades do país e em São Paulo. Com o detalhe importante foi nesta ocasião pela primeira vez que o Partido dos Trabalhadores fez alianças com outros partidos de esquerda.

Mas aqui já começa uma outra história…

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