Para entender o ministério Temer

Desde que foi anunciado, no dia 12 de maio, o ministério do presidente interino, Michel Temer (PMDB) recebeu muitas críticas. Um ministério de homens e brancos. Sem mulheres e sem negros. Em suma, um ministério que não representa a diversidade nacional, que nos acostumamos a ver, desde Lula, quando assumiu a Presidência da República, em 1º de janeiro de 2003.

Temer não é Lula, e muito menos Dilma. Por esta razão fundamental seu time tem esta configuração política, social e étnica. E não poderia ser diferente. A aliança que o PT fez com o PMDB em 2010 para eleger Dilma e, em 2014, para reelegê-la, não estava fundada em bases programáticas ou ideológicas, mas pragmáticas. A aliança tinha apenas uma razão política, o caminho do centro político. E no plano prático, abocanhar o tempo de TV que o PMDB dispunha.

A propósito, a aliança com o PMDB vem desde o segundo mandato de Lula (2007-2010). Mas foi a partir da eleição de Dilma, em 2010, que o PMDB cobrou do PT mais participação no ministério e, portanto, mais protagonismo político.

Assim, para além das paixões ou decepções, de um lado pela derrubada de Dilma e a assunção de Temer, é preciso entender e conhecer os caminhos que serão percorridos pelos rios para chegar até o mar.

O ministério que ora conhecemos começou a ser construído, grosso modo, no dia 2 de dezembro de 2015, quando o presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) autorizou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. E ganhou força no dia 6 de maio, quando a comissão processante da Câmara aprovou a admissibilidade do impedimento. Como se tratava e se trata de um jogo de ‘cartas marcadas’, não havia dúvidas quanto ao seu resultado ou desfecho. Assim, Temer foi a campo construir seu ministério.

Não é um ministério de notáveis, como se chegou a especular no início. Pode até ser que o interino de fato tenha procurado os notáveis e talvez esses não tenham aceitado em razão das condições políticas com que o vice galgou a Presidência. E também a realidade política se impôs.

Um numeroso arco de forças político-partidárias se formou no Congresso para aprovar o impeachment de Dilma. Essas forças se impuseram depois para assumir o poder junto com o representante do PMDB. Não poderia ser diferente.

Desse modo, Temer não compôs um ministério para contemplar a diversidade sociocultural e étnica nacional. O fez para atender às forças político-partidárias que confluíram para o impedimento de Dilma e também, por óbvio, para garantir a governabilidade de seu mandato, ancorado numa ampla maioria parlamentar. Seguindo assim o desgastado presidencialismo de coalizão nacional, como fez Sarney, Itamar, FHC e Lula. E quem não seguiu esse script teve o destino que conhecemos — Collor e Dilma.

Os ministérios das áreas sociais incorporados por outras pastas tiveram economia irrelevante, mas atende à narrativa que mobilizou às ruas centenas de milhares de pessoas a favor do impeachment — a redução da máquina pública e dos gastos públicos, entre outros.

É muito provável que muitos daqueles que foram às ruas contra a corrupção e o ‘aparelhamento do Estado’ estejam agora se sentindo arrependidos ou envergonhados por, talvez, terem sido ou se sentido usados. Mas agora ‘Inês é morta’.

O fato é que, o interino Temer está à frente e chefia um governo liberal-conservador. Liberal no plano econômico e conservador no aspecto político. Porquanto, é absolutamente irrelevante para o atual governo um Ministério da Cultura (agora restabelecido) para conduzir uma vasta e complexa agenda cultural num país continental e multicultural.

A agenda do mercado é outra. Temer foi colocado aonde está para levar a cabo uma pauta fiscalista, que em princípio só descarta criar mais impostos como a CPMF, pois aí bateria de frente com a Fiesp, que apoiou a escalada do vice-presidente.

Por fim, o time que foi escalado por Temer tem liga com a maioria congressual que aprovou o impedimento da presidente Dilma. Tem liga com os segmentos sociais que foram às ruas pela cassação do mandato presidencial e, sobretudo, tem liga com os setores empresariais que apoiaram e financiaram a disputa contra o PT e a esquerda.

Por tudo isto, o ministério Temer não poderia ser diferente. Se o fosse, não precisariam deslocar o PT do poder!

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