A Direita e as Esquerdas

Ao acordar com mais uma prova cabal que a Presidenta Dilma não cometeu crime algum, ou seja, que nem as tais pedaladas de fato aconteceram, me peguei refletindo sobre como a falta de unidade no campo da esquerda (como um todo) acaba fortalecendo os inimigos da classe trabalhadora.

As brigas no campo popular, que começam de fato com a leitura do famoso Relatório de Kruschev no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) deixaram sequelas que até hoje não foram curadas, tanto no campo ideológico como no campo prático.

Sem entrar no mérito de acertos e erros das diferentes experiências socialistas na segunda metade do século XX, uma coisa que ficou clara em nossas terras foram as diferentes influências ideológicas que por aqui chegaram, especialmente no fim dos anos setenta e início da década de 1980 que culminaram em diversas siglas do campo democrático.

Com o fim da ditadura militar e os movimentos sociais recebendo respaldo constitucional para voltarem a atuar, os mais diversos segmentos da esquerda brasileira começaram a disputar seu espaço, muitas das vezes levando estas pelejas para fora do espectro político, indo para o campo pessoal.

Estas sequelas, que poderiam ser simples divergências, ao longo do tempo foram se transformando em chagas cada vez maiores, especialmente para militantes de base, em geral com pouca formação política e que transformam uma eleição de um sindicato ou de um DCE literalmente em uma guerra.
Após 30 anos de disputas pesadas nos movimentos populares, é possível chegar a conclusão que parte da esquerda, levou estas diferenças mais a sério do que deveriam, tanto é que além de termos inúmeras agremiações do campo popular democrático a maior parte delas não dialoga entre si, enfraquecendo o debate progressista como um todo.

Se um militante socialista não consegue enxergar que entre as mais variadas tendências existentes nenhuma delas pode ser sua aliada em um momento grave de crise (como o que estamos vivendo) é sinal de que a miopia política está ganhando terreno, pois enfraquecer quem pode ser um aliado pontual favorece exatamente aos inimigos de classe, a tradicional direita.

O campo conservador, pois mais incrível que possa parecer, não se divide. Ele sabe muito bem aonde quer chegar e usa destas armas para enfraquecer seus inimigos (no caso a esquerda) de maneira muito inteligente. Semeando o divisionismo, fortalecendo as brigas internas, bancando ideias que serão aceitas por alguns e rechaçadas por outros a burguesia joga muito bem o jogo político, sabendo com frieza quem são os seus aliados e quem deve ser minado por oferecer um perigo real a seus interesses.

Maluf, Alckmin, Serra, Nunes, Bolsonaro, Malafaia entre outros sabem muito bem que podem contar um com o outro em momentos de polarização, coisa que não acontece na maior parte da esquerda.
As eternas disputas infantis para saber quem é mais revolucionário e acusar o outro de ser o menos ortodoxo semeiam tanto ódio no campo popular que muitas vezes a unidade, que parece óbvia, é quase impossível de se buscar. E esta falta de unidade, gera (e pode gerar ainda mais) estragos.

Exemplos disso não faltam, como quando alguns partidos de esquerda simplesmente não quiseram ir aos atos contra o golpe de estado dado por Temer e sua corja simplesmente por não acreditarem que era um golpe de fato. Outro caso emblemático são as candidaturas de Haddad e Erundina empatadas em 3° lugar nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo. Será que a manutenção deste cenário não deixa claro que quem vai vencer será o Russomano ou alguém de sua estirpe?

O divisionismo no campo da esquerda só fortalece os principais inimigos da classe trabalhadora. Esta frase, apesar de óbvia, não parece ser entendível para algumas correntes, estamos vivendo uma chance real de retrocessos sociais, não temos tempo para ficar disputando quem é mais ou menos socialista, é hora de aliarmos para que todos não sejamos destruídos!

Se durante os governos petistas as pautas eram por mais direitos, hoje estamos na defensiva, não faz sentido brigas internas sem levar em conta o inimigo maior que está a nossa frente: Temer e sua política neoliberal.

Se o campo popular almeja de fato vencer esta disputa pesada contra a mídia, o judiciário e os conservadores, o primeiro passo é buscar uma agenda conjunta, do contrário, como mostra a história, seremos várias esquerdas brigando entre si e uma direita raivosa vencendo esta luta com um pé nas costas, unidade de ação deve ser o mantra a ser cantado nas Frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e nas demais organizações que ainda estão de fora destas, ou esquecemos as diferenças, ou vamos levar mais 30 anos para repensar todas as nossas ações sectárias.

A sociedade não pode pagar o preço da irresponsabilidade de alguns! Vamos pensar e nos unir, antes que seja tarde…

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