A dimensão hercúlea da empreitada

Qualquer que seja a decisão final do Senado a propósito do impeachment da presidenta Dilma, o Brasil já não será o mesmo. Já não é agora, como consequência do limite dramático a que chegou a crise política e institucional; e em razão do conjunto das medidas regressivas adotadas, em pouco mais de dois meses de interinidade, por Temer e seu bando.

As transformações em curso desde 2003, nos dois mandatos do presidente Lula e no primeiro mandato da presidenta Dilma, têm sido duramente impactadas, seja pelas medidas regressivas do governo interino, seja pelo atraso que sofreram quanto a uma necessária consolidação.

Nos doze anos do ciclo mudancista, em que pesem inquestionáveis conquistas, não foram alterados nem os fundamentos macroeconômicos da economia (de inspiração neoliberal), nem a superestrutura jurídica estatal.

Esses dois fatores de insuficiência, ao lado de outros tantos, contribuíram fortemente para o poço em que afundou a economia tão logo se exauriram os efeitos das políticas anticíclicas de curto prazo; e para o risco atual de implantação do "Estado policialesco" que age como um dos vetores do golpe institucional parlamentar-judiciário-midiático.

A vida não costuma voltar atrás, feito vídeo tape, para corrigir erros e insucessos. O mal está feito.
Assim, na melhor hipótese da não consumação do impeachment e o consequente retorno de Dilma ao posto, não haverá condições de governabilidade para estancar a sangria promovida por Temer e retomar de imediato o ciclo de mudanças.

Daí a necessidade de um entendimento nacional em torno de uma solução democrática para crise, que não apenas possa respeitar a Constituição, como envolva a ausculta da sociedade através do voto.

O plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais pode ser a fórmula viável.
Para tanto, um pronunciamento público da presidenta Dilma nesta direção é indispensável, o quanto antes.

Demais, põe-se também na ordem do dia a construção de uma nova plataforma capaz de unir amplas forças políticas e sociais em defesa da retomada do desenvolvimento econômico em bases soberanas e em favor de reformas estruturais de sentido democratizante.

Isto considerando as particularidades da nova situação, em especial a correlação de forças momentaneamente adversa.

Na hipótese de uma antecipação das eleições presidenciais, certamente a "mesmice" teria enormes dificuldades para vencer.

Por outro lado, uma conjugação de forças adequadamente matizada em função da realidade atual — portanto, ampla e plural, impulsionada por um núcleo à esquerda -, competiria com chances de êxito.

Em termos imediatos, há que se prosseguir, nas redes e nas ruas, a resistência o golpe e às medidas antipopulares adotadas por Temer e, concomitantemente, debater os rumos do País.

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