Dois acontecimentos

Na semana passada dois acontecimentos importantes para o movimento sindical marcaram, na prática e simbolicamente, a superação de uma etapa muito difícil pela qual passara.

Refiro-me ao período aberto pela aprovação do impeachment presidencial e pela interinidade do vice-presidente. A crise política precipitou de uma maneira forte, somente comparável a 1991, o risco da divisão do movimento sindical em detrimento da unidade de ação necessária para enfrentar a recessão e para resistir às agressões neoliberais.

Setores importantes do movimento sindical, motivados pela crise política e estimulados pelas orientações partidárias, resistiram à ação comum em nome do não reconhecimento formal das novas autoridades e por desconfiança em relação aos colegas sindicais que reconheciam ou apoiavam o novo governo interino.

Como expressão do bom senso intuitivo do movimento em rechaçar as intenções neoliberais e resultado do trabalho agregador e inteligente de inúmeras lideranças, na terça-feira, 16 de agosto, aconteceu em todo o Brasil a manifestação unitária pela retomada do crescimento, contra o desemprego e de resistência às agressões aos direitos trabalhistas e previdenciários.

Este foi o primeiro acontecimento importante com a unidade se recompondo e se reafirmando.
O segundo, que aconteceu na sexta-feira, 19 de agosto, foi a visita do ministro do Trabalho ao sindicato dos metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, que sofre com a recessão e as demissões, principalmente nas montadoras e tem sido obrigado a negociar acordos salariais duradouros sem ganhos reais.

Os trabalhadores, dirigidos pelo sindicato, têm enfrentado com firmeza o avanço das demissões e buscam soluções para as quais é muito importante sensibilizar o governo e garantir medidas que a curto e médio prazos aliviem a pressão.

O agravamento da crise fez com que o sindicato recebesse o ministro na busca de alternativas.
Compare-se com o que aconteceu um mês atrás, quando a reunião dos presidentes dos sindicatos de metalúrgicos de São Paulo e de São Bernardo com o mesmo ministro, em Brasília, para tratar da renovação da frota, foi muito criticada no campo político e sindical antagonista ao impeachment, por aceitar o diálogo com um ministro interino.

O movimento sindical recuperou sua dinâmica unitária e, através de um de seus mais importantes destacamentos, passou a se preocupar prioritariamente com o enfrentamento da recessão, antes mesmo do desfecho final do processo de impeachment.

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