A dimensão do simbólico

Uma questão chave para que a grande burguesia brasileira domine ainda mais plenamente o Estado e promova a reconversão do Brasil ao neoliberalismo (com radicalidade maior com que o fez FHC) e seu realinhamento externo em direção aos EUA, não é apenas impedir a presidente Dilma Rousseff e colocar no Planalto um preposto subserviente.

Tampouco simplesmente bloquear a candidatura de Lula em 2018, ou botar na cadeia o maior número possível de petistas, ou ainda ajustar a legislação a um modelo autoritário. É tudo isso, mas nada disso resultará eficaz se os golpistas não conseguirem expurgar do imaginário popular o que Lula representa.

Como escreveu Roberto Amaral (“Por que destruir o símbolo Lula?”), dias atrás, “o ‘risco Lula’ não se reduz ao seu notório potencial eleitoral a ameaçar os sonhos continuístas do assalto neoliberal, até porque outras alternativas haverão de ser construídas; o perigo, a ameaça, residem principalmente – e nisso está sua maior gravidade – no que o líder popular representa e simboliza para as grandes massas como exemplo de afirmação histórica da classe trabalhadora”.

Desconstruir Lula, desqualificá-lo política e moralmente, apresentando-o como corrupto, chefe de quadrilha, demagogo e outros que tais, é o que visa a campanha midiática, articulada com a direita (parlamentar ou não) e instâncias da polícia e do judiciário.

A verdadeira operação de cerco e aniquilamento dirigida contra o ex-presidente, expõe com didática clareza a dimensão do simbólico na política (o que, a rigor, vale para outras esferas da vida).

As definições programáticas mais estratégicas, a esquerda as faz procurando aplicar, na realidade sobre a qual atua, determinada ferramenta teórica. A esquerda comunista utiliza o marxismo-leninismo. Disso conclui-se, por exemplo, a natureza de tal realidade e seus nexos externos e, por conseguinte, se estabelecem os objetivos mais gerais da luta transformadora e também alguns caminhos. Trata-se, aqui, de atividade científica que vai orientar os passos da tática. Especialmente neste campo é que o simbólico atua. Ou seja, para as definições táticas, há que se levar em conta, entre outros fatores, mas com certa ênfase, a questão dos símbolos e do imaginário.

Na luta institucional – mais precisamente, na luta eleitoral – essa questão não raro se manifesta com bastante intensidade. Por vezes a busca de um determinado objetivo eleitoral pode conduzir a composições heterodoxas, pragmáticas, capazes de ferir – não raro com gravidade – a imagem da esquerda no imaginário popular, algo de difícil reconstrução.

Não se proponho, obviamente, a examinar mais amplamente a dimensão dos símbolos e da imaginário, algo mais afeito à psicologia social do que ao jornalismo. Apenas chamo a atenção da esquerda (ou parte dela, sejamos justos), na antevéspera de uma das suas mais retumbantes derrotas – o impedimento da presidente Dilma Rousseff -, para que sua ação política não venha a passar ao largo dessa questão subjetiva, tornando-se assim co-protagonista de sua própria diluição no coração na mente dos que pretende representar.

Afinal, como acertadamente registrou Roberto Amaral em seu artigo, “os símbolos são a argamassa da política”.

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