A gravidade do golpe

O recesso nas compras governamentais no mercado editorial, ainda no último governo Dilma, e que prometia ser passageiro, provisório, nesse atual, fruto de um golpe jurídico-midiático, caiu na mais absoluta imprecisão, com a descontinuação de alguns programas e a reativação temporária de outros, como o PNAIC. Ou seja, tudo aqui se tornou provisório, deixando claramente para barganhas políticas importantes decisões, e não para estratégias que pensem no livro e no leitor como fim último.

Às pequenas e médias editoras que antes eventualmente conquistavam espaço nas compras públicas, também não resta muito, afinal ninguém discorda de que para 2017 haverá uma redução significativa no poder de compra do consumidor. E não há como ser diferente, pois congelamentos de salários, planos de demissão voluntária, ausência de controle sobre preços de insumos básicos como telefone e luz, aumento dos derivados de petróleo, como o gás e outros, prometem um ano de severa retranca, possivelmente maior do que vimos até agora.

Tenho conhecimento de gráficas que estão acelerando a redução de seus maquinários e que estão evitando investimentos, na busca do ponto de equilíbrio dentro de tamanhos reduzidos para seus negócios. Já pelo lado das fábricas de papel, mesmo prevendo uma taxa de câmbio nem de todo favorável, essas pensam basicamente na exportação como tábua de salvação para suas vendas.

E o quadro poderia piorar? Mas claro, e vai. O prenúncio do circo de horrores como essa tal PEC 241, é amostra grátis. Um governo que diz cortar despesas reformando o ensino médio e reduzindo bolsas, enquanto despeja somas incríveis para salvar a mídia decadente, e que diz preparar privatizações injustificáveis, é, no mínimo, assustador. Sem falar que, por si, a existência de um ministro da educação que ataca o sistema de trabalho e de previdência dos professores por serem “muito macios”, é ainda mais aberrante.

Durante a década de 1990, iniciada pelo enlouquecido Collor, muitos diziam que a melhor saída para o brasileiro seria o aeroporto mais próximo, que sair do país se constituía na única alternativa saudável. Hoje, infelizmente, e novamente, talvez seja esse o melhor caminho para se enfrentar esses próximos anos.

Pois nesse exato instante ocorre a Feira de Frankfurt, a maior e mais antiga feira de negócios do livro do mundo, e embora os editores do Brasil não tenham tido, ao contrário de anos anteriores, apoios públicos, para se fazerem presentes, a senda anteriormente aberta parece prometer bons frutos, como prenúncio do que vem sendo aqui afirmado.

Sim, editores brasileiros estão batalhando no exterior para comprar e, sobretudo, vender e negociar traduções e coedições. E sim, para o autor que se autopublica, talvez a melhor receita seja apostar como nunca em seu grupo mais próximo de leitores, e também desenvolver canais de venda no exterior – coisa que o tal ebook, embora carente de maiores seguranças autorais, me parece ser uma alternativa rápida e eficaz. E talvez, por outro lado, seja essa a hora de reforçarmos o desenvolvimento de mais agentes literários, para que possamos expandir os horizontes dos autores e das editoras nacionais como alternativa mais segura.

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