A arte do conto na política

Que conto maravilhoso foi esse o da recente eleição norte-americana de 2016. Apesar de toda a informação disponível na atualidade, de todo o jogo e troca de opiniões entre grandes empresas e governos no globo, o candidato mais improvável, da mais rica e armada nação, se elegeu sem deixar espaços para questionamentos e recontagens.

Como gosto de me utilizar de um exemplo da literatura para compreender o que ocorre na política, percebi que o gênero literário do conto, era o que me parecia o mais próximo para ajudar com os estranhos mecanismos que nos governam. Aliás, gosto muito da frase, “a vida invariavelmente imita a arte”, e nada mais apropriado nessa hora, me pareceu, do que pensar sobre o que a arte da literatura estaria a nos ensinar.

O conto literário, ou a história curta, se distingue dos demais gêneros como a crônica e o romance, pelo seu reduzido tamanho, pela contrição de tempo e espaço, mas principalmente pela história cifrada, por uma segunda história, numa espécie de rio subterrâneo, que em algum momento deverá aflorar ao longo da história visível e primeira.

E assim foi, ao que tudo indica, o caso dessa curiosa eleição, pois enquanto o que nos chegava até o derradeiro instante eleitoral estava a contar uma história recheada de detalhes, inclusive ao vivo e a cores – de repente, com toda a tensão possível digna de um excelente conto, eis que surge o totalmente inesperado: a eleição impensada do republicano bilionário, e muito estranho, Donald Trump.

Nesse momento, então, que percebi que o rio subterrâneo da política, como no de um bom conto, se realizava na imprensa e nas redes sociais e aos olhos do mundo. Num claro sinal de que temos ainda muito que aprender com a literatura para depois pensar na vida.

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