Fidel: “Na universidade me fiz revolucionário”

Fidel foi Fidel. Não há como compará-lo a Camilo, Che, Raúl ou qualquer outro revolucionário de Cuba ou do mundo. Nem mais, nem menos, apenas Fidel.

Entretanto, afora o carisma extraordinário que lhe era peculiar, há milhares de jovens brasileiros parecidíssimos a Fidel. Todos eles seguem seus passos na luta pela soberania nacional ultrajada pelos vendilhões de ontem e de hoje, ocupando as salas de aula.

Mas é pouco destacado que também Fidel, antes da tentativa frustrada de ocupar o Quartel Moncada ou se embrenhar em Sierra Maestra com seus companheiros, iniciou sua jornada no movimento estudantil. Como ele próprio disse em algumas oportunidades, foi na universidade em que se tornou um revolucionário.

Não se tratava de um revolucionário socialista. Talvez um socialista utópico ou romântico. Fundamentalmente um jovem estudante que teve a oportunidade de aprofundar seus estudos, juntamente com outros colegas, sobre a obra de grandes ícones da independência de Cuba, principalmente José Martí.

Nesse movimento estudantil, mesmo não pertencendo aos quadros de diretores Federação dos Estudantes Universitários (FEU) de Cuba, Fidel logrou ampliar sua visão política além das serras e do Caribe. Viu despertada sua consciência de classe que anos mais tarde lhe permitiria dar um salto adiante e se aproximar do marxismo, seguindo os passos de seu irmão mais jovem Raúl.

E na efervescência do movimento estudantil, que lutava além das questões meramente educacionais, Fidel teve a oportunidade de conhecer outros países em caravanas estudantis. Já nessa época se articulavam com estudantes de todo o continente no propósito de fundarem uma organização continental estudantil, o que veio a ocorrer somente em 1966 com a fundação da Oclae, sediada em Cuba, já com Fidel presidente do país.

Em uma dessas viagens aconteceu um dos episódios mais inusitados da história. Fidel, até então um jovem sem maiores compromissos com o movimento estudantil, vai para a Colômbia participar de um congresso que visava fundar essa organização dos estudantes latino-americanos. Esse evento ocorreria paralelamente à realização de uma Conferência Interamericana da Organização dos Estados Americanos (OEA), com a presença dos chefes de Estado de todo o continente. Iriam realizar, portanto, uma atividade paralela.

Jorge Eliécer Gaitán era como se fosse o nosso Lula na Colômbia. Já havia disputado as eleições presidenciais e saído derrotado. Mas dessa vez, esse líder popular estava à frente nas pesquisas e certamente venceria o pleito do ano seguinte. Gaitán se reuniria com os estudantes, entre eles Fidel, se não houvesse sido assassinado. Seu relógio parou quebrado uma e cinco da tarde, poucos minutos antes do encontro marcado com os líderes estudantis.

O que se vê, a partir daí, é aquilo que a história batizou de o “Bogotazo”. Mais de duas mil pessoas foram assassinadas contidas pela Guarda Nacional que disparou contra a população encolerizada de cima dos edifícios num dos episódios mais sangrentos já registrados. O que se segue são aproximadamente 300 mil mortos durante o período chamado de “La Violencia”. Gaitán tinha claro que se fosse assassinado o povo se levantaria enfurecido: “Se avanço, seguem-me, se retrocedo, empurram-me, se me assassinam, vingam-me”.

O jovem Fidel foi testemunha ocular dessa atrocidade cometida pelas elites da Colômbia e tomou frente nas manifestações. A partir daquele momento nunca mais seria o mesmo.

Hoje, milhares de estudantes brasileiros ocupam centenas de escolas e campi universitários. A imensa maioria é movida, tal como o jovem Fidel, pelas aspirações mais dignas e honestas, relacionadas à defesa de nossa democracia e nossa soberania nacional.

O aprendizado político que estão tendo foi o mesmo que gozou o afortunado Fidel, em distintas dimensões, através da maior e melhor de todas as aulas: cidadania política. Assim se forja um lutador e uma lutadora comprometidos com a pátria em seu sentido mais revolucionário.

A luta de milhares de estudantes brasileiros, que no próximo dia 29 lotarão Brasília contra um “Bogotazo” tupiniquim, capaz de assassinar os seus futuros nos próximos vinte ou mais anos, será a melhor homenagem ao líder estudantil Fidel Castro.

Adelante, comandantes!

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