O Leviatã engoliu Temer

O “governo” Temer já perdeu 06 ministros, 01 por mês. Seu mais dileto aliado Eduardo Cunha (PMDB), responsável direto por ele está na cadeira presidencial, foi afastado, cassado e depois preso. E agora, outro aliado, nada menos do que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), também está sendo afastado pelo judiciário.

Sem considerar os efeitos das delações em curso e o conjunto de problemas que se abate sobre o país (desemprego, recessão, perda de renda, desencanto, etc.), que tendem a se agravar com as medidas antipovo que ele prometeu entregar aos banqueiros, o cenário é trágico e bem distante da calmaria que ele anunciou e os seus aliados desejavam.

São metafísicos, sem qualquer capacidade de leitura crítica da realidade. Seu “governo” está sitiado, sua popularidade em situação crítica, o caos estabelecido e ele anuncia a mais nova bomba: 65 anos de idade mínima para aposentadoria, de homens e mulheres, e 49 anos de contribuição.

E, para agravar a situação já crítica, expressiva parcela do judiciário tem recorrido a um ativismo político pouco usual na sua prática cotidiana. A decisão liminar de um ministro do STF retirando o presidente do Senado de suas atribuições agrava exponencialmente essa situação e talvez seja a espoleta que faltava para detonar o canhão reprimido do movimento popular.

O “governo” Temer está sendo devorado pelo Leviatã preconizado por Thomas Hobbes, em 1651, no qual o pensador inglês sustentava que a humanidade não tinha capacidade de se autogerir. Necessitava, portanto, de um imperador com poderes absoluto para evitar que a sociedade se dilacerasse, razão pela qual defendia um estado autoritário, absolutista, sem respeito a qualquer liberdade.

Por mais absurdo que possa parecer, a concepção do estado neoliberal defendido pela direita brasileira é baseada precisamente na teoria de Hobbes, cuja essência é a supressão das liberdades individuais e a intransigência com as reivindicações do movimento social.

Como se pode vê, não há coincidência nos abusos praticados pelas distintas operações policiais / judiciárias em curso, sem discutir se são oportunas ou não. Há uma doutrina reacionária a sustentá-las e a execução prática das medidas fica a cargo do aparelho de estado, instrumento de dominação da classe dominante.

A classe dominante nunca teve respeito pelas regras democráticas e muito menos pelas opiniões divergentes, como os fatos do dia a dia têm demonstrado.

Sempre que teve seus interesses contrariados, ou ameaçados, não teve dúvidas em recorrer à violência e a truculência para se manter no poder e assegurar seus privilégios. O método pouco importa, mas, todavia, golpes militares, legislativos, judiciários e mesmo guerras sangrentas estão entre os mais usuais.

Tal fato, de amplo conhecimento, não deveria causar espécie a ninguém, pois, como bem demonstrou Marx & Engels, em A Origem da Família, da propriedade privada e do Estado (1884), “o estado nada mais é do que um instrumento de dominação da classe dominante”, que sempre o utilizará em seu benefício.

O estado nunca foi e jamais será um mediador dos conflitos das classes antagônicas através da separação dos poderes (legislativo, executivo e judiciário), como idealizou Montesquieu, em O Espírito das Leis, 1748.

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