O tempo e o pacto

A crise nacional anda numa velocidade em que os fatos são ultrapassados no mesmo dia por outros ainda mais danosos numa escala progressiva.

A tormenta institucional tem duas vertentes óbvias que se imbricam: a política e a econômica.

Com o golpe de 2015 que depôs a presidente Dilma a nação constata que apesar da redemocratização em 1985 ainda há na cultura política brasileira uma tendência autoritária que se evidencia no fato que vinte e oito anos após a promulgação da Carta Constitucional de 1988 só dois presidentes da República concluíram seus mandatos.

A metade dos presidentes eleitos no mesmo período foi deposta. Ao longo dos vinte e oito anos pós-Constituinte os argumentos utilizados para depor os presidentes eleitos, e até seus substitutos, foram por razões com forte teor de ideologismo, como sucedeu com a presidente Dilma.

Os impeachments, e até as tentativas não concretizadas, ao longo da Nova República foram encetados em defesa da moralidade mas as razões centrais residem na elementar luta pelo poder, sem compromissos com o pacto Constitucional, sob o comando da grande mídia empresa associada ao Mercado rentista.

A ideia de que “o povo bota, o povo tira” é absolutamente válida nos regimes de plena democracia, desde que observada a Constituição, a soberania das urnas. Fora disso é golpe.

No plano econômico tem sido raso o esforço em prol dos objetivos da centralidade dos interesses nacionais, que se expresse em projetos que possam alavancar o conjunto da economia brasileira, o reforço do papel estratégico do Estado como indutor na construção de percursos de largo tempo e espaço.

Ao contrário promove-se hoje, sob violenta ofensiva neoliberal, o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, uma condenação ao crescimento do País, a famigerada reforma da Previdência que amputa mortalmente os direitos dos assalariados, suas aposentadorias. Pela acumulação dos lucros do Mercado tudo, ao povo e à nação, zero.

Está certo André Araújo: não é possível um País com a complexidade do Brasil em inédita e rara recessão (no planeta), onde pessoas que comandam a economia não estão à sua altura, muito menos têm a legitimidade, frente aos imensos desafios que estão no horizonte.

Urge a formação de ampla frente em prol da reconstrução nacional, da economia, pela democracia.

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