O ano do golpe

Este 2016 foi, sem dúvidas, um ano pesado, repleto de eventos ruins em todas as áreas, mas especialmente na Economia e na Política. E aos que me perguntam o que eu destaco no ano que finda, eu respondo que, claro, foi o golpe de estado ocorrido no Brasil.

E é isso mesmo, sem tergiversar. Impeachment, trama parlamentar e outras designações que usem são formas pra inglês ver, pois o nome que se dá ao ato praticado é golpe de estado. É desta forma que a derrubada de Dilma Rousseff ficará registrada na História.

Os golpistas dos três poderes, da mídia, Polícia Federal e o escambau que se conformem. É desse jeito que serão lembrados pelas futuras gerações, por mais que queiram se desvencilhar dessa pecha, mas ela já está selada em suas biografias.

O próprio testa-de-ferro da tomada de poder, Michel Temer, diz e repete que não quer ser chamado de golpista. Contrariando seu desejo, contudo, a alcunha já está devidamente carimbada junto ao seu nome, como aquele que viabilizou o anseio da elite tupiniquim.

O fato se agrava diante da inexistência de algo que pudesse imputar à então presidente Dilma qualquer culpa em atos de corrupção. Ao contrário, as delações premiadas de empresários e funcionários públicos colhidas por agentes da Justiça apontam em outro sentido, na direção daquele que assumiu o poder com sua quadrilha.

Isto, apesar do esforço do juiz Sérgio Moro, coordenador da Operação Lava Jato, em escolher pessoas e partidos aos quais decretar punições. Nomes como o do próprio Temer, ou de lideranças do PSDB, como os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), passam solenemente pelos processos sem serem molestados.

Aliás, o papel da Justiça em todas as instâncias dessa jornada anticorrupção demonstra o quanto é necessária uma reforma do judiciário no país. O problema é que, pelas medidas que vêm sendo anunciadas pelo novo regime, podemos deduzir que estamos cada vez mais distantes de mudanças nessa esfera.

No processo de impeachment, auge do golpe, o Supremo Tribunal Federal (STF) atuou como facilitador das peripécias do Legislativo. Essas, perpetradas sob o comando do então presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E este, uma vez cumprida a missão, foi jogado pra escanteio e hoje está preso.

Assim, 2016 ficará pra História como o ano do golpe que trouxe o neoliberalismo de volta ao País, com força total. São soterradas, uma a uma, as políticas sociais que promoviam uma distribuição de renda mais justa e humanista, dando lugar à ganância do setor privado, nacional e estrangeiro, que engorda com dinheiro público.

Já estão sendo postos em prática severos cortes nos orçamentos das áreas de saúde e educação, por exemplo, e o bem-estar da população volta a ser assunto de intelectuais, de universidades. Os mais humildes voltam a ser “inatingíveis”, como FHC classificava mais de um quarto da população, quando era presidente da República.

Resta a esperança de que isso tudo faça reacender o sentimento de revolta da nossa gente.

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