A Frente Ampla em Defesa do Brasil e a unidade popular

Eis que retomamos nossa colaboração periódica no Vermelho. A cada quinze dias, haverá neste espaço algum escrito, ora sobre caminhos e descaminhos do Brasil, ora sobre algum personagem – daqui ou d’alhures, de hoje ou de antanho –, e, vez ou outra, comentário sobre alguma obra e o cometimento de alguma literatura.

Peço licença hoje para tratar de assunto que a muitos tem ocupado: a constituição da frente política capaz de enfrentar o retrocesso promovido pelas forças que tomaram de assalto a República.

Em artigo intitulado “Quero meu País de volta”, publicado no blog Sítio do Vieira e na página paulista deste Vermelho, escrevi que a natureza essencial do golpe de 2016 é imperialista, de matriz antinacional, com desdobramentos desastrosos para os direitos dos trabalhadores, para nossa economia, e para a democracia. Seus autores, alinhados com os interesses do capital estrangeiro e dos especuladores de todos os matizes, operam em prejuízo dos interesses da maioria da Nação.

O golpe é parte da estratégia dos Estados Unidos e seus aliados (leia-se oligopólios das nações do centro do sistema capitalista) para desbaratar os arranjos contra-hegemônicos dos países emergentes – que têm nos BRICs uma de suas maiores expressões – e retomar a ofensiva política e o controle econômico na América do Sul e em território brasileiro.

Se essa análise é legítima e pertinente, a frente não pode ser restrita, “de esquerda”, mas ampla, nacional, patriótica, em defesa do Brasil, sua economia, sua Constituição, sua democracia, suas riquezas, sua gente. A questão nacional ganha centralidade no esforço de sua construção, porquanto é, por sua transversalidade e necessidade, o pomo da concórdia: aquele capaz de alinhar, num mesmo arco de resistência, um conjunto amplo de forças políticas e sociais diferenciadas interessadas no desenvolvimento nacional.

Mas, diga aí, ô autor: a Frente Ampla contradita a formação de uma “frente de esquerda”?
Uma “frente de esquerda”, stricto sensu, sim. Já uma articulação ou bloco popular, não. E dirá mais esse escriba: a formação de um bloco popular é item mais que desejável para o bom desempenho da Frente Ampla.

Calma, que já me explico:

Os conceitos de forças populares e de unidade popular parecem, a esse teclador, os mais adequados ao que vivemos no Brasil. Eles compreendem: o primeiro, a pluralidade de setores que compõem o povo brasileiro, portadores de interesses e valores a um tempo comuns e diferenciados; o segundo, a coesão, para além de matizes ideológicos, da maioria das organizações, forças, personalidades e setores deste mesmo povo. Já o conceito de esquerda incide sobre linhas ideológicas de correntes políticas filiadas à tradição jacobina da Revolução Francesa e às lutas operárias a partir do século XIX.

Este cidadão está a negar a existência da esquerda ou o seu papel na luta em curso? Não. Afirma, simples e conscientemente, que o campo popular não é composto apenas de forças política e ideologicamente de esquerda; que, na Frente Ampla, composta por diferentes classes e segmentos econômicos, esse campo popular deve se apresentar ao menos articulado, a fim de que tenha voz na construção do projeto nacional; e que alianças entre diferentes correntes de esquerda, a experiência o demonstra, dão-se justamente nas movimentações objetivas do campo popular, traduzem-se na unidade popular.

Em resumo, amigo leitor, amiga leitora, a Frente é ampla, nacional, em defesa do Brasil, e deve contar com a participação estratégica de um bloco popular unido. Por suposto que isso não é como bolinho de chuva. Demanda muito esforço, habilidade e convicção. Demanda, sobretudo, uma plataforma nacional e democrática – que tomei a liberdade de alinhavar no artigo referido no terceiro parágrafo –, e muita luta.

Lutemos, pois.

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