Jucá, o roteirista do golpe

O golpe de 2016 tem todos os ingredientes para uma produção cinematográfica hollywoodiana. Nada de produção tupiniquim, com participação em festivais alternativos. Teria que ser produção grandiosa, para concorrer ao Oscar.

O golpe de 2016 tem todos os ingredientes para uma produção cinematográfica hollywoodiana. Nada de produção tupiniquim, com participação em festivais alternativos. Teria que ser produção grandiosa, para concorrer ao Oscar.

O melhor roteiro, por exemplo, ninguém tira de Romero Jucá. Lembram daquele edificante diálogo entre ele e o Machado? Pois é, naquela sua fala estava o roteiro do golpe, a solução Michel. Eis um bom nome para o filme, “A solução Michel”. Excelente roteiro, cumprido quase que à risca. Tiraram a Dilma, botaram o Michel, Cunha “morreu”, e o grande acordo nacional, que incluía até o Supremo, parece que caminha a passos largos.

Claro que ainda restam algumas dúvidas. Cunha, por exemplo, que disputaria com chances elevadas o prêmio de melhor produtor, está mesmo morto ou não? Há quem diga, a partir da indicação do novo ministro da Justiça, que Cunha está vivíssimo, mandando recado através de depoimentos, escrevendo em grande e respeitado jornal (não riam, por favor). Será um furo no roteiro Jucá?

Outra dúvida é com relação a Aécio. Ele continua aparecendo e sumindo. Na crise, quando as coisas apertam, ele desaparece por completo. Mas eis que, de repente, na sabatina do candidato ao STF, eis que Aécio surge, um grande líder, defensor dos predicados acadêmicos e jurídicos de Alexandre, indignado com ilações acerca do grande jurista, de renomado saber, pronto a abrilhantar o STF com a sua, perdoem, brilhante cabeça. Fica a dúvida sempre, se Aécio foi ou não foi o primeiro. Ele tem fama de pé frio, no máximo fica em segundo.

“A solução Michel” será um grande sucesso de público e crítica, não tenho dúvidas. Fico imaginando, na telona, a reunião íntima no The Love Boat, flutuando sobre as águas, numa espécie de prévia da sabatina que ocorreria duas semanas depois. Teríamos que dar um jeito de, nessa cena, homenagear um dos presentes, fazendo aparecer nos céus um helicóptero. Ou será que ficará muito óbvio?

A sabatina também terá que ser mostrada no filme, não pode ficar de fora. O fotógrafo Dida Sampaio pode ser contratado para uma consultoria. A piscadela de Alexandre para Lobão, imortalizada pelas suas lentes, há de servir como propaganda. Já imaginaram aquela foto num cartaz do filme? Tem tudo para ser um sucesso, reafirmo. “A solução Michel” vai fazer Coppola babar de inveja.

Um amigo tenta me desanimar, pede que eu segure um pouco a euforia. Segundo ele, pode ser que surjam alguns problemas. O roteirista parece que anda a brigar com outro personagem, por conta de posturas leninistas, não entendi bem. Michel resiste um pouco em fazer aparições públicas, receoso dos incontáveis fãs, certamente. Pode ser que um mais afoito, na ânsia de conseguir um autógrafo, coloque em risco a sua segurança. A reforma da Previdência, que visa garantir mais qualidade de vida aos brasileiros, permitindo que a gente trabalhe até quase os oitenta anos, não está sendo bem compreendida. Enfim, como diria o mestre Carlos, há pedras no caminho.

Mas eu sou um otimista, acredito que, se entregarmos a tarefa do filme aos americanos (sim, eles é que são americanos de verdade) eles farão um excelente trabalho. Aliás, o chanceler que acabou de sair defendia que a gente entregasse logo o país inteiro aos gringos, e não apenas um filmezinho qualquer.

Só estou preocupado mesmo com a escalação do elenco. É que, numa fala recente do roteirista Jucá, ele defendeu, democraticamente, suruba para todos. Será que vão escalar o obsceno Alexandre? Falo do consultor da reforma educacional e não do outro, o PhD recém sabatinado.

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