Soberania ameaçada

Há evidências suficiente que nos permite concluir, com razoável margem de segurança, que ao final e ao cabo das chamadas "operações lava-jato" o que de fato estará seriamente ameaçada é a nossa soberania.

Três fatos inter-relacionados nos ajudam a compreender perfeitamente essa situação: a prisão do "pai do programa nuclear brasileiro"; a insolvência das empresas de infraestrutura; e o ataque frontal ao agronegócio, o setor mais dinâmico da economia nacional.

Os fatos indicam que está havendo um ajustamento na "ordem mundial", na qual as potências imperialistas – especialmente Estados Unidos da América – procuram destruir as economias emergentes para eliminar competidores e assegurar seus privilégios. Simples assim.

Embora não seja um fato novo, a atual ofensiva contra a nossa soberania é bastante requintada, na medida em que envolve multiplus aspectos e distintos atores.

O método é razoavelmente conhecido. Já foi usado em diferentes épocas com diferentes objetivos.

Na época da ditadura militar, por exemplo, a CIA recrutava, no Brasil e demais países sob ditaduras, "jovens talentosos" e os enviava para os Estados Unidos para participarem de um programa de treinamento (lavagem cerebral seria o termo mais apropriado) denominado "amigos das Américas". Depois, no retorno aos seus países, o departamento de estado americano providenciava, aos mais "talentosos e destacados", boas colocações nos aparelhos de estado, onde essa legião de "amigos das Américas" passava a fazer apologia das "maravilhas" americanas e, principalmente, procurando criar alternativas a eventuais saídas revolucionárias – o eterno pavor dos EUA – com o fim da ditadura militar.

Assim como eles tinham claro o fim da ditadura militar e providenciaram os “5ª coluna” para alardearem sua ideologia. Agora, igualmente, eles sabem que o governo Temer é provisório e, somando a sua ineficiência com a frustração geral da população, é perfeitamente previsível prevê o fim melancolico do “governo” Temer.

Diante do fracaso, em todos os terrenos, do governo Temer e sua política, é muito provável que tenhamos um retorno aos fundamentos da política anterior, independente de quem seja o eventual presidente da república.

Segundo a lógica do império americano é preciso, portanto, cuidar para que a nação não possa se recuperar. Eis o que explica a lógica de destruição dos fundamentos da nossa tecnologia e da nossa capacidade operacional, especialmente em grandes obras.

Analisemos as consequências práticas desses três fatos mencionados e a conclusão será evidente: estamos sob ataque do império e é preciso reagir para não permitir que se destrua a tecnologia e o patrimônio nacional conquistado a duras penas.

1. A prisão do "pai do programa nuclear brasileiro". A prisão do Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva representou um duro golpe contra o programa nuclear brasileiro. Ao tirar de circulação um cientista que com a engenhosidade típica do povo brasileiro foi capaz de construir, mesmo trabalhando em condições rudimentares e sob pesado boicote americano, uma centrífuga nacional para enriquecimento de urânio, representa, sem dúvidas, o retardamento se não a destruição de um projeto de natureza estratégica, de forte repercussão em nossa soberania;

2. A insolvência das empresas de infraestrutura. No momento, as principais obras de infraestrutura do país, bem como as concessões de aeroportos ou qualquer outro empreendimento de vulto só é acessível às empresas estrangeiras, na medida em que as empresas nacionais estão inviabilizadas, seja por impedimentos legais ou insuficiência de caixa. A consequência natural será a invasão de empresas estrangeiras controlando setores estratégicos de nossa economia, igualmente de comprometimento de nossa soberania, como acaba de acontecer com a concessão dos aeroportos de Florianopolis, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador – todos arrematados por alemães, franceses e suíços;

3. Ataque frontal ao setor mais dinâmico da economia nacional. O estardalhaço em torno da chamada "operação carne fraca" criará sérias dificuldades ao mais dinâmico e competitivo setor de nossa economia, responsável direto pelo saldo da balança comercial brasileira. O setor primário é o responsavel exclusivo pelo saldo de nossa balanca comercial. O Brasil é o 2º maior produtor de carne do mundo e o maior exportador. Essa espetacularizacao causará o rompimento de dezenas de contratos mundo afora, especialmente quando se sabe que os concorrentes diretamente interessado no colapso da economia nacional nao deixarao de aproveitar a oportunidade para eliminar o mais forte concorrente do planeta. E nao é com pouco orgulho que devemos salientar que o Brasil é detentor de tecnologia de ponta no setor primário, o que nos tornou referencia no mundo inteiro. Eis porque, sob a lógica do império, precisamos ser abatido. Agora que brasileiros se prestem a isso é de fato deploravel. E antes que se dê interpretacao de conveniencia, realco que criminosos tem que ser exemplarmente punido. O que nao é tolerável é destruir o patrimonio e a soberania nacional.

Alguem tem ideia do tamanho do “estrago” que esse espetáculo vai nos custar, tanto econômico quanto em termos fitossanitários?

Como profissional da área e ex-secretário de produção tive oportunidade de conhecer de perto o quanto o sistema de defesa sanitária do Brasil é rigoroso – o que não elimina possibilidades de fraudes, naturalmente – e o quanto vários países do mundo recorrem a pretextos fitossanitários para impedir a entrada de produtos brasileiros em seus mercados. Imaginem agora, com esse “presente”!

Como se pode vê, esse é mais um terreno no qual um governo desmoralizado é incapaz de defender o país, mesmo naquilo em que somos referência tecnologica mundial.

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