Temer: rendição condicional ou incondicional

 Que o “governo” Temer chegou ao fim todos já sabem. Já age por impulsos e espasmos, na tentativa de ganhar sobrevida enquanto a nação se dilacera. A rendição é eminente, restando apenas decidir se ela será condicional ou incondicional.

O fim de seu curto governo se deveu a fatores diversos, sendo o principal deles a pauta anti-povo e anti-nação que eles tentaram aplicar. Some-se a isso a ilegitimidade de um governo oriundo de um golpe e, felizmente, o amadorismo de fazer inveja aos primatas na condução do governo, que fica fácil entender porque o governo chegou ao fim beirando ao delírio.

Imaginar que poderiam governar sem votos, sem apoio dos movimentos sociais e ainda retirar direitos sociais e trabalhistas do povo é ou não uma atitude que beira ao delírio?

Temer ainda tem um curto espaço de manobra para buscar uma rendição condicional, na qual possa assegurar alguma salva guarda para si e seu entourage. Mas esse tempo está acabando e pode ser atropelado pelo tropel das ruas, na medida em que o povo perceba que ele manobra para tentar evitar a sua deposição.

Nessa fase ele certamente ainda pode negociar um acordo de salvaguarda para si e, quem sabe, para os demais ex-presidentes, o que certamente facilitaria a aprovação no Congresso Nacional; uma anistia prévia para os seus inúmeros crimes; e até mesmo alguma medida contra eventuais abusos autoritários de pedaços do aparelho de estado.

Mas, insisto, se perder o senso de oportunidade a rendição será incondicional. Situação na qual o derrotado é obrigado, simbolicamente, a entregar a própria espada ao vencedor. Como não há um exército regular a exigir a rendição e sim um povo ensandecido por tantos escândalos de corrupção, desemprego, fracasso da economia e medidas impopulares, talvez essa massa não se contente com “simbolismo da espada”.

A insistência de Temer em manobrar para permanecer à frente do governo, pode levar o país a um tensionamento de tal monta que basta uma fagulha para que se deflagrem atos com pautas difusas e sem qualquer controle.

Hoje há quem sonhe com essa radicalização para justificar um governo ainda mais autoritário. Talvez nem saibam, mas tentam ressuscitar o estado absolutista preconizado por Thomas Hobbes em o Leviatã, no qual se admite um mandatário com poderes absolutos.

Há quem defenda o fim do estado tripartite – legislativo executivo e judiciário – onde todos os instrumentos do estado burguês estariam subordinados a um desses “poderes”, segundo a teoria de Montesquieu em Espírito das Leis. Defendem que cada pedaço do aparelho de estado (polícia, ministério público, controladorias, etc.) se transforme num poder autônomo.

Nem o autoritarismo de Hobbes e nem tampouco a pulverização do estado burguês de Montesquieu é capaz de resolver em definitivo a crise em curso. O ideal seria um capitalismo de estado, que abrisse caminho para a construção da sociedade socialista, como solução definitiva para a crise estrutural em que nos encontramos.

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