Agora a direita vê abusos na lava-jato

Diante do absoluto descontrole de parte do aparelho de estado, nunca o poema de Bertolt Brecht criticando a omissão coletiva diante do avanço e das arbitrariedades do nazismo foi tão atual.

Como é do conhecimento histórico, a ideologia nazista que, sob o comando de Hitler, viria a ser uma das maiores tragédias da humanidade, avançou sobre a Alemanha e vários outros países graças a omissão e até mesmo a conivência de expressivas parcelas da sociedade.

O célebre poema alertava que "primeiro eles vieram e prenderam os comunistas; não me importei, eu não era comunista; depois eles levaram sindicalistas, estudantes e até os padres; pensei, são agitadores, bem feito; quando, finalmente, chegaram para me levar, eu não tinha nem para quem pedir ajuda porque todos já estavam presos".

A conclusão é simples: quando não se reage diante do arbítrio, da ilegalidade, em algum momento você também será vítima dele.

Certamente quando Temer rasgou todos os preceitos legais e morais para tramar o golpe contra a presidenta Dilma, sob a parcimônia silenciosa da maioria da sociedade, ele jamais imaginou que alguns meses depois ele estaria em situação bem pior.

Parte do aparelho do estado age sem controle da classe dominante e com base em dados bastante sólidos pode determinar a qualquer momento o fim formal de seu curto governo. Digo formal porque sob o aspecto político, operacional, o governo ja acabou.

Por isso mesmo temos assistido uma série de manifestações, de distintos setores e instituições, revelando crescente descontentamento com o que denominam de arbítrios, especialmente dos operadores das operações policiais/judiciárias em curso, dentre as quais a lava-jato.

Articulistas que participaram ativamente desse processo golpista, fingindo que não viam as flagrantes ilegalidades, inclusive quando conversas privadas da presidenta foram grampadas ilegalmente e divulgadas ilegalmente, agora reclamam de estarem sofrendo do mesmo arbítrio.

Assim, parte da mídia começa a vê exagero onde antes via “liberdade de expressão”. Por isso, insisto, o poema de Brecht nunca foi tão atual. Mas, de nossa parte, igualmente é preciso tirar lições, especialmente a que ensina que jamais se pode ter ilusao de classes.

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