Sexta retrasada, mencionando uma aula sobre tática e estratégica que ministrara, esse pobre teclador fez figurar neste Portal Vermelho um artigo de alerta contra o purismo, expressão do esquerdismo, virose pueril que não raro acomete novos e velhos combatentes das mais nobres causas. Judiei de leitores e leitoras tentando demonstrar, ao refletir sobre o conceito de 'campo polÃtico', como essa enfermidade compromete, tanto os interesses futuros, como a tática imediata dos trabalhadores em sua luta contra o capital, bem como sua independência em face de outras forças polÃticas em contenda.
Hoje testo mais uma vez vossa paciência, caro leitor, cara leitora. Venho gastar bytes com outra patologia polÃtica que, não tratada, finda por se tornar epidemia: o pragmatismo, uma das manifestações contemporâneas do reformismo, conhecido velho dos trabalhadores desde o século XIX.
O reformista acredita no gradualismo, na progressividade, na evolução. Bota fé que um novo tempo e o novo mundo dentro deste novo tempo virão sem rupturas, sem sacolejos de monta, sem abalos sÃsmicos. De reforma em reforma, de compensação em compensação, o povo encherá o papo.
O reformista é um 'possibilista'. Segue a máxima de Ulisses Guimarães, cacique do PMDB falecido em desastre aéreo (algo, ao que parece, usual entre polÃticos e autoridades brasileiras), lÃder da redemocratização do Brasil pós Ditadura: "A polÃtica é a arte do possÃvel".
Se o esquerdista se impacienta como menino birrento com o conceito de transição, o reformista, feito ancião pachorrento, crê numa transição sem fim, em que antagonismos serão esbatidos num ambiente rico de contradições que, de per si, qual regatos, passarão de um para outro nÃvel de qualidade.
Sendo um possibilista, o reformista, via de regra, é um 'pragmático': só importa aquilo que tem utilidade. Doutrina, teoria, códigos, posturas precisam achar justificação na utilidade para a solução polÃtica imediata de conflitos ou para o atendimento de necessidades. Todo o resto é perda de tempo.
No capÃtulo Tática e Estratégia, é uma máxima comunista a frase: "Todo o procedimento polÃtico visa à acumulação de forças". Se o sectário, em sua vã impaciência, considera que em nove décadas já se acumulou em demasia e que é hora de gastar o capital revolucionário com ações diretas, o pragmático é um acumulador: sempre há de achar que o saldo da poupança polÃtica está baixo, e, em nome de uma sempiterna 'construção de hegemonia', se recusa ao salto.
Ocorre que os trabalhadores não acumulam força para terem uma conta corrente polÃtica gorda que os capacite a negociar com as forças do capital em condições mais vantajosas, ponto. Negociar com o capital em situação mais favorável, em posição de força, importa, e muito, para atender os interesses imediatos da classe e do povo. Na medida em que propicia arrancar ao adversário terreno, é parte do processo de acumulação. Todavia, essa acumulação de forças visa ao salto; é para que se proceda a rupturas; para que, em última instância, se conquiste o poder.
O olho do pragmático está posto na utilidade, no ganho imediato. A mirada do lÃder da vanguarda descansa nos objetivos estratégicos. Este último se pergunta em que medida tal ou qual procedimento tático, este ou aquele posicionamento polÃtico, esta ou aquela aliança colabora com acumular para a causa transformadora.
Dito assim, tá mamão com mel. O diabo é saber identificar, no emaranhado de possibilidades, qual a mais adequada. Quando o momento é de defensiva, como esse em que vivemos, tudo se complica. Ainda mais se estão em jogo, nesse cenário de proto-Regime de Exceção, as condições de atuação do instrumento dos trabalhadores e do povo brasileiro para a transformação radical da sociedade: o Partido Comunista.
O purista, convicto de que a História o absolverá, clamará pelo assalto aos céus e recusará qualquer acordo ou armistÃcio, mesmo que isso custe vidas e anos de acúmulo. "Às massas, camaradas!", bradará. Já o pragmático, cheio de sagacidade, numa dialética rocambolesca, se bobear, chega a propor que se ocupe, mediante módico aluguel, um cômodo na casa do inimigo. "Ao acordo, meus amigos", é o que sempre proporá, mesmo que isso custe sua independência e a dos seus.
O pragmatismo é uma corrente de pensamento norte-americana criada pelo filósofo e matemático Charles Sanders Peirce, que viveu entre 1839 e 1914. Filha rebelde do empirismo inglês, não passa de um mal disfarçado materialismo metafÃsico. Ainda faz muito sucesso nas terras do Tio Sam, em especial, entre homens de negócio e polÃticos, não importa se democratas ou republicanos. É um pensamento fácil de cultivar: qual mato, esparge suas sementes por meio do vento e qualquer terra ou clima as recebe bem, ainda mais se adubadas pelo senso comum de que uma ideia vale sua utilidade prática imediata.
O pragmático, tomado no sentido estiolado do termo, consciente ou não, bebe nessa fonte e procura instalar bebedouros dela em diferentes organizações. Porque não consegue, ou não quer, ir além da aparência dos fenômenos, apresenta soluções fáceis e rápidas para problemas da mais alta complexidade. Não se interessa muito em avaliar impactos. Suas projeções são a de um jogador de, no máximo, cinco lances. Mas como é rápido no raciocÃnio e apresenta saÃdas concretas, está sempre bem na fita; é valorizado.
A esta altura, é possÃvel que o leitor, enfarado, exausto, conclua:
- Rapaz, a vida de vocês né mole não - diga aÃ.
Né não. Mas a gente gosta. É dando bordoada nos oportunismos à esquerda e à direita (bordoada polÃtica - quando muito, cientÃfica - é bom que se diga) que nosso bloco segue e se fortalece nesta vida e neste Brasil de todos nós.
O reformista acredita no gradualismo, na progressividade, na evolução. Bota fé que um novo tempo e o novo mundo dentro deste novo tempo virão sem rupturas, sem sacolejos de monta, sem abalos sÃsmicos. De reforma em reforma, de compensação em compensação, o povo encherá o papo.
O reformista é um 'possibilista'. Segue a máxima de Ulisses Guimarães, cacique do PMDB falecido em desastre aéreo (algo, ao que parece, usual entre polÃticos e autoridades brasileiras), lÃder da redemocratização do Brasil pós Ditadura: "A polÃtica é a arte do possÃvel".
Se o esquerdista se impacienta como menino birrento com o conceito de transição, o reformista, feito ancião pachorrento, crê numa transição sem fim, em que antagonismos serão esbatidos num ambiente rico de contradições que, de per si, qual regatos, passarão de um para outro nÃvel de qualidade.
Sendo um possibilista, o reformista, via de regra, é um 'pragmático': só importa aquilo que tem utilidade. Doutrina, teoria, códigos, posturas precisam achar justificação na utilidade para a solução polÃtica imediata de conflitos ou para o atendimento de necessidades. Todo o resto é perda de tempo.
No capÃtulo Tática e Estratégia, é uma máxima comunista a frase: "Todo o procedimento polÃtico visa à acumulação de forças". Se o sectário, em sua vã impaciência, considera que em nove décadas já se acumulou em demasia e que é hora de gastar o capital revolucionário com ações diretas, o pragmático é um acumulador: sempre há de achar que o saldo da poupança polÃtica está baixo, e, em nome de uma sempiterna 'construção de hegemonia', se recusa ao salto.
Ocorre que os trabalhadores não acumulam força para terem uma conta corrente polÃtica gorda que os capacite a negociar com as forças do capital em condições mais vantajosas, ponto. Negociar com o capital em situação mais favorável, em posição de força, importa, e muito, para atender os interesses imediatos da classe e do povo. Na medida em que propicia arrancar ao adversário terreno, é parte do processo de acumulação. Todavia, essa acumulação de forças visa ao salto; é para que se proceda a rupturas; para que, em última instância, se conquiste o poder.
O olho do pragmático está posto na utilidade, no ganho imediato. A mirada do lÃder da vanguarda descansa nos objetivos estratégicos. Este último se pergunta em que medida tal ou qual procedimento tático, este ou aquele posicionamento polÃtico, esta ou aquela aliança colabora com acumular para a causa transformadora.
Dito assim, tá mamão com mel. O diabo é saber identificar, no emaranhado de possibilidades, qual a mais adequada. Quando o momento é de defensiva, como esse em que vivemos, tudo se complica. Ainda mais se estão em jogo, nesse cenário de proto-Regime de Exceção, as condições de atuação do instrumento dos trabalhadores e do povo brasileiro para a transformação radical da sociedade: o Partido Comunista.
O purista, convicto de que a História o absolverá, clamará pelo assalto aos céus e recusará qualquer acordo ou armistÃcio, mesmo que isso custe vidas e anos de acúmulo. "Às massas, camaradas!", bradará. Já o pragmático, cheio de sagacidade, numa dialética rocambolesca, se bobear, chega a propor que se ocupe, mediante módico aluguel, um cômodo na casa do inimigo. "Ao acordo, meus amigos", é o que sempre proporá, mesmo que isso custe sua independência e a dos seus.
O pragmatismo é uma corrente de pensamento norte-americana criada pelo filósofo e matemático Charles Sanders Peirce, que viveu entre 1839 e 1914. Filha rebelde do empirismo inglês, não passa de um mal disfarçado materialismo metafÃsico. Ainda faz muito sucesso nas terras do Tio Sam, em especial, entre homens de negócio e polÃticos, não importa se democratas ou republicanos. É um pensamento fácil de cultivar: qual mato, esparge suas sementes por meio do vento e qualquer terra ou clima as recebe bem, ainda mais se adubadas pelo senso comum de que uma ideia vale sua utilidade prática imediata.
O pragmático, tomado no sentido estiolado do termo, consciente ou não, bebe nessa fonte e procura instalar bebedouros dela em diferentes organizações. Porque não consegue, ou não quer, ir além da aparência dos fenômenos, apresenta soluções fáceis e rápidas para problemas da mais alta complexidade. Não se interessa muito em avaliar impactos. Suas projeções são a de um jogador de, no máximo, cinco lances. Mas como é rápido no raciocÃnio e apresenta saÃdas concretas, está sempre bem na fita; é valorizado.
A esta altura, é possÃvel que o leitor, enfarado, exausto, conclua:
- Rapaz, a vida de vocês né mole não - diga aÃ.
Né não. Mas a gente gosta. É dando bordoada nos oportunismos à esquerda e à direita (bordoada polÃtica - quando muito, cientÃfica - é bom que se diga) que nosso bloco segue e se fortalece nesta vida e neste Brasil de todos nós.
* Escritor, servidor público, militante do PCdoB desde 1983