Os babacas da internet

Todas cidades ou mesmo pequenas vilas têm pelo menos um bobo (na minha infância era uma boba), que vagueia pelas ruas fazendo discursos nas portas de botecos, vendas, residências ou nas esquinas que houver. Fala o que lhe vier à cabeça, sem censura, pois ninguém presta atenção naquelas bobagens.

Com o avanço tecnológico, porém, ao que parece essas figuras migraram pra Internet, onde encontram públicos bem maiores sobre os quais despejar suas besteiras. O assunto, aliás, foi tema de textos do semiólogo italiano Humberto Eco, falecido em 2016, bem antes das conversas via net se tornarem a febre que hoje são.

Ainda no início da década de 1980, ele dizia que a tomada de poder em qualquer país já não precisava de metralhadoras e tanques, pois “hoje um país pertence a quem controla os meios de comunicação”. E apontava aos avanços tecnológicos, que vinham tornando esses meios em armas cada vez mais eficazes.

Anos depois, ele criticava o mau uso da Internet, por esses novos personagens. Ele chamava essas figuras de “os imbecis da web”, numa alusão ao “idiota da aldeia”, figura muito comum também na Itália e no restante da Europa.

Eco se referia, no entanto, ao aspecto linguístico, ao provável surgimento de um novo dialeto, digamos assim, falado entre os usuários das redes sociais, o que se confirmou.

Além da linguagem usada pelos membros dessa tribo cibernética, porém, uma outra faceta chama atenção e irrita. É o conteúdo do que eles falam ou postam. Colocam no chinelo a (falta de) criatividade e inconsequência de qualquer bobo de aldeia, de tanta tolice que conseguem parir.

O desconhecimento da língua portuguesa fica evidente, embora boa parte desses internautas incômodos tente encobrir as agressões ao vernáculo com o novo dialeto criado, numa simbiose conveniente. Mas, relevando esse lado formal, a significação do que é escrito chega assustar de tantas inverdades, incorreções e impropriedades que exalam.

Quando falam de assuntos triviais, de cervejas e marmeladas, hábitos e costumes, passa batido. Mas, quando se metem a defender posições políticas e ideológicas, normalmente na ideologia global (da Rede Globo), é que o bicho pega. Criam um mundo inverossímil, que só existe na cabeça deles e na propaganda reacionária.

Outro dia, um deles, no afã de “provar” corrupção nos governos de Lula e Dilma, com empreiteiras brasileiras, dizia com todas as letras que o porto de Mariel, em Cuba, “só existe no papel”. Eu perdi a paciência e escrevi que ele estava desinformado ou mentia descaradamente, já que eu mesmo já havia visitado aquelas instalações portuárias em pleno funcionamento.

Sim, e informei ao cara que estava bloqueando o nome dele em meu computador – esta, a única arma que nos resta contra esses babacas invasores. O problema é que este é apenas um, que eu cito como exemplo, mas eles são centenas, milhares, e não vale a pena ficar correndo atrás.
O difícil é saber se essa raça vai tomar conta de vez das redes sociais ou se poderá ser contida através de algum mecanismo que venha a ser criado. Quem sabe, um detector de mentiras, pelo menos, já que calar os bobos de aldeias não é possível.


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