CUT-24 anos: a controvertida decisão do PT

O agudo conflito de classes iniciado de forma aberta no final dos anos 70, culminou com a derrota do candidato da ditadura militar, Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral. Era um momento em que a união do povo avançava, mas o movimento sindical se dividia.

A fundação da CUT no 1º Congresso da Classe Trabalhadora por um grupo de sindicalistas ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT), ocorrido entre os dias 26 e 28 de agosto de 1983, representou a consolidação de uma divisão no movimento sindical que começou ganhar corpo em 1982. Logo após a realização da 1ª Conclat, em 1981, iniciou-se um movimento solicitando o adiamento do congresso marcado para 1982. Além de divergências internas na Comissão Nacional Pró-CUT, alegava-se a proximidade das eleições quase gerais daquele ano.


 


No dia 10 de maio de 1982, a executiva da Comissão Nacional Pró-CUT decidiu encaminhar uma consulta aos Estados que deveria ser respondida pelos Encontros Estaduais das Classes Trabalhadoras (Enclats). O controvertido resultado da discussão apontou para o adiamento do congresso. Em novembro de 1983, reuniu-se o outro Conclat e nele foi criada a Coordenação Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat) que, depois, em 1986, transformou-se em Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). A temida divisão do movimento sindical naquele momento crucial da vida do país estava sacramentada.


 


Grande comoção nacional


 


O ano seguinte seria marcado pelos grandes atos a favor de eleições diretas para presidente da República. Era o movimento pelas “Diretas já!”, que mobilizaria multidões e traria mudanças radicais para o país. Não houve eleições diretas, mas no dia 15 de janeiro de 1985 Tancredo Neves elegeu-se presidente da República, derrotando o candidato da ditadura militar, Paulo Maluf, no colégio eleitoral. A posse do novo governo no dia 15 de março de 1985 pôs fim ao regime implantando com o golpe militar de 1964. Mas as incertezas sobre o futuro rondavam o país.


 


Tancredo Neves havia se submetido a uma agenda de campanha bastante extenuante e vinha sofrendo fortes dores no estômago durante os dias que antecederam a posse. Aconselhado por médicos a procurar tratamento, teria dito: “Façam de mim o que quiserem, mas depois da posse.” O presidente eleito temia que os militares mais reacionários se recusassem a passar o poder ao vice-presidente, José Sarney. Porém, a sua saúde não resistiu e, na véspera da posse, no dia 14 de março de 1985, ele foi internado com fortes dores abdominais.


 


Sarney assumiu a Presidência aguardando o restabelecimento de Tancredo Neves, que a partir de então sofreu sete cirurgias. No dia 21 de abril de 1985, os aparelhos de circulação e respiração artificial que o mantinham em estado vegetativo foram desligados e o presidente faleceu vítima de infecção generalizada, aos 75 anos de idade. Houve grande comoção nacional. O Brasil, que acompanhara tenso e comovido a sua agonia, promoveu um dos maiores funerais da história nacional. Calculou-se na época que, entre São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e João del Rey (MG) — onde Tancredo Neves foi sepultado —, mais de 2 milhões de pessoas viram passar o esquife.


 


Um grande momento nacional


 


Coração de Estudante, música do cantor mineiro Milton Nascimento, marcou o episódio na memória nacional. Vinte anos após, o corpo médico que tratou do presidente revelou que não divulgou o laudo correto da doença, à época — Tancredo Neves não faleceu em decorrência de uma diverticulite, como se divulgou, mas de um tumor benigno —, porque o anúncio poderia ser interpretado como câncer, causando efeitos imprevisíveis no andamento político do país.


 


Apesar da comoção que tomou conta do país, a alegria pelo fim do regime militar era indisfarçável. O povo brasileiro se sentia partícipe de um grande momento nacional. Era a vitória de uma luta que custou sangue e vidas de muitos patriotas que combateram o regime de terror inaugurado em 1964. Uma luta cuja síntese se deu no gigantesco comício na Praça da Sé, no 25 dia de janeiro de 1984, em São Paulo.


 


Trégua nas reivindicações salariais


 


Para os trabalhadores, além da ampliação das liberdades o país precisava começar a varrer as marcas deixadas pelos anos de chumbo. A forma de se fazer isso seria a realização de uma Assembléia Nacional Constituinte. A eleição de Tancredo Neves elevava a luta dos trabalhadores por liberdade e justiça social a um novo patamar, mas as velhas oligarquias, a estrutura social do país fendida em dois extremos e a máquina estatal montada para garantir os privilégios de poucos às custas do sacrifício de muitos continuariam exibindo poder no novo regime.


 


Por isso, mal ganhou as eleições o novo governo já vivia uma situação de tensão provocada pela disputa em torno da orientação econômica e política que o país deveria adotar. Prevendo o choque entre trabalhadores e patrões, que numa arena iluminada pela democracia poderia ter resultados imponderáveis, Tancredo Neves propôs uma trégua nas reivindicações salariais de seis meses para “dominar esta fera faminta e terrível que é a inflação”. A proposta foi feita durante um encontro com dirigentes sindicais ligados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e causou imediata reação dos trabalhadores.


 


Falta de unidade do movimento sindical


 


Vários encontros de dirigentes sindicais se realizaram e chegou-se a uma conclusão: os trabalhadores foram duramente castigados nos 20 anos de regime militar pelo arrocho salarial, pela falta de liberdade e pelo desemprego, e não havia mais nada o que ceder. Sem autonomia sindical, sem aumento real de salário, sem estabilidade no emprego, sem redução da jornada de trabalho e sem direito de greve não havia o que conversar sobre “pacto social”. Mas o ato de receber dirigentes sindicais mostrava que o novo governo estava disposto a levar adiante a ampliação de espaço para a atuação dos trabalhadores. Outra medida de impacto nesse sentido foi a reabilitação, pelo ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, dos sindicalistas cassados pelo regime militar. 


 


 


Tancredo Neves voltou a conversar com lideranças trabalhistas sobre “pacto social”, mas havia um problema grave: a falta de unidade do movimento sindical. Isso ficou demonstrado com a quantidade de correntes recebidas pelo presidente eleito para tratar do assunto. O fracionamento, no entanto, não impediu que, pela primeira vez desde 1982, o 1° de Maio fosse comemorado de forma unitária pela Conclat, a CUT e outras correntes sindicais, tendo como bandeiras comuns a trimestralidade do reajuste salarial, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a Assembléia Nacional Constituinte livre e soberana.


 


Postura combativa das centrais


 


Com as expectativas renovadas pelo regime batizado por Tancredo Neves de “Nova República”, os trabalhadores se mobilizavam. O povo vibrava com a derrota do regime militar e os trabalhadores em todo o país se levantavam contra a compressão salarial ocorrida nos tempos da ditadura militar. Só nos últimos quatro anos do velho regime, os salários caíram, em termos reais, 16%; e o desemprego aumentou 20%. Como moldura do quadro de lutas, colocava-se a expectativa natural quanto a melhorias da condição de vida nos tempos da “Nova República”.


 



Ao constatar que o pique da inflação era bem superior ao de seus salários, os trabalhadores se mobilizaram e conquistaram importantes vitórias. Para se ter uma idéia das proporções daquela maré de greves, em meados de maio de 1985 o Ministério do Trabalho divulgou um balanço apontando que em apenas uma semana 57 categorias haviam paralisado suas atividades. De janeiro até aquela data, 203 greves foram registradas no país. Em 1986, os trabalhadores passariam por uma fase de calmaria, com o “Plano Cruzado”. Mas logo a crise voltaria a se manifestar com intensidade — exigindo outra vez uma postura combativa das centrais sindicais, apesar da divisão que se acentuava. Falo deste assunto na próxima coluna.


 


Leia também:


 


CUT: das raízes aos frutos
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=19506


CUT-25 anos: agudo conflito de classes
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=19609


CUT-25 anos: o batismo de fogo de Lula
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=19761


CUT-25 anos: a última ação unitária
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=19902


 


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PS: Uma das mais geniais criações do presidente Luis Inácio Lula da Silva é o bordão “nunca antes na história deste país”. Pode-se encaixar aí o papel calhorda da “grande imprensa”. Nunca antes na história deste país se viu tamanha sordidez. Nem nos tempos do lacerdismo. (Os democratas de todo o país devem se preparar para o chumbo grosso dos reacionários que vem por aí.)


 


Procurei no dicionário Houaiss uma definição para essa gente, e a que melhor se coaduna com suas práticas é cambada (grupo ou bando de indivíduos maus, ordinários ou criminosos; corja, súcia).


 


Essa cruzada moralista com fins golpistas se apóia em esquemas políticos nos quais coabitam diversos tipos de cambalacheiros. Até traficantes de drogas, estelionatários, mandantes de assassinatos, lavadores de dinheiro — verdadeiros Manchas Negra e Irmãos Metralha. Aparecem também, nestes esquemas, alguns Superpatetas. Entre eles se destaca o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que, a serviço dessa cambada, não cansa de gritar: “Lobo, lobo!”. Da próxima vez que o gabola gritar, tomara que seja verdade. E que o lobo o coma.


 


 


 

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