Por que a direita não quer a delação da JBS?

A direita brasileira nunca aceitou os ditos benefícios concedidos pelo Ministério Público Federal (MPF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) ao time da JBS no seu acordo de delação premiada.

A JBS apresentou provas concretas – gravações e filmagens – demonstrando vários tipos de crime, dentre os quais corrupção, praticados por Michel Temer (que ainda responde pela presidência do país) e o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e seu candidato à presidência nas eleições de 2014.

Pelo o acordo, os delatores ganhariam imunidade e os dois denunciados (Temer & Aécio) deveriam ser exemplarmente punidos, no mínimo perdendo os cargos por absoluta incompatibilidade moral.

Os benefícios concedidos a JB&F estão ameaçados, mas Temer & Aécio, até o presente, não sofreram qualquer punição. Por que?

Para as forças conservadoras, reacionárias, de direita, a delação da JBS tem dois "pecados" de origem. O 1º é ter entregado seus expoentes (Temer & Aécio), exatamente os personagens que executam a sua política de desmonte do país e de ataques aos direitos sociais e trabalhistas; E o 2º, até mais "imperdoável" na lógica da direita, é não ter apresentado qualquer prova contra Lula.

E agora, mesmo com as “malas e malas” de Geddel Vieira, íntimo de Temer, não se vê mobilização a altura no sentido de livrar o país desse grupo, que tomou o governo através de um golpe na busca de impunidade e, principalmente, para dilapidar o patrimônio público, através de privatizações, e eliminar os parcos direitos sociais e trabalhistas que o povo conquistou a duras penas.

E essa particularidade do golpe, infelizmente, ainda não foi inteiramente compreendida por boa parte das forças que se colocam no campo de esquerda, seja por limitações teóricas ou, pior, por uma estúpida conveniência particular, onde os interesses do país e de sua população são secundarizados e mesmo desprezados em nome de objetivos meramente eleitorais.

O golpe não foi dado apenas para retirar a presidenta Dilma Rousseff.

Essa foi a parte mais fácil, inclusive porque contou com a ajuda de gente íntima do círculo de “poder”, o chamado “fogo amigo”, expresso tanto na ausência de uma defesa mais consistente como numa indisfarçável torcida pela deposição da presidenta.

O objetivo de fundo do golpe é o que se agiganta à nossa frente: saquear o país, massacrar o povo, concentrar ainda mais riqueza na mão dos poderosos e buscar impunidade para eles, enquanto os adversários são desavergonhadamente perseguidos e retaliados.

Quem conhece minimamente teoria de estado não ficará surpreso com essa escancarada parcialidade.

Compreenderá perfeitamente que o estado nada mais é do que um instrumento de dominação da classe dominante. Logo, a serviço dos "seus", jamais da justiça. Entenderá que essa é mais uma clara demonstração da luta de classes que move a sociedade, cuja essência só será alterada com a mudança do próprio estado.

E, assim, constatará que só nos resta o caminho da resistência ampliada, eliminando a falsa dicotomia “golpista versus não golpista” e buscando alianças para evitar o criminoso desmonte do país e o massacre contra os direitos do povo.

Quem nunca compreendeu isso certamente ficará atordoado, ou prostrado, diante da virulência com que as forças progressistas são atacadas e da parcimônia dispensada aos próceres da direita.

O tempo – e não o clima – é de turbulência, mas é preciso ter presente os ensinamentos do grande poeta Thiago de Melo de que, apesar de tudo, “faz escuro mais eu canto, porque um outro amanhã vai chegar”.

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