Lava Jato ou Lança Chamas: Ampliar Radicalizando e Radicalizar Ampliando

Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela. (Maquiavel)

2018 chega e com ele vem junto talvez o mais esperado episódio jurídico dos últimos tempos: o julgamento de Lula. Com título de filme, sem dúvida este tende a ser um dos maiores espetáculos televisivos do ano. Até cobertura ao vivo tudo indica que irá acontecer, mesmo sendo proibido.

A operação lava jato, ou como eu prefiro chamar, lança chamas, que tinha como objetivo prático destruir o PT perante a opinião pública com acusações levianas e condenações sem provas, como em qualquer incêndio descontrolado, começou a queimar além da conta de seus mentores, deixando claro, segundo as declarações de Tacla Duran, o que todo mundo já tinha convicção (mas não tinha provas): o juiz Moro é um imoral, ou seja: é um serviçal dos EUA, assim como toda sua casta de apoiadores, com destaque para o tal de Deltan Dallagnol, procurador da República nas horas vagas e promoter da lança chamas na maior parte do tempo.

Será muito difícil que estes burocratas jurídicos não impeçam a candidatura do ex-presidente, o que será a maior de todas as provas que não só esta operação, mas todo o golpe dado na presidenta Dilma foi milimetricamente arquitetado, entretanto, alguns sinais recentes precisam ser observados, pois como ensinou Sun Tzu há mais de 2000 anos, dividir um exército é a melhor forma de vencê-lo. E, neste caso em especial, fundamental entender.

Se até pouco tempo atrás o bloco direitista conservador que dava sustentação aos absurdos jurídicos da lança chamas mostrava-se uno, ele agora parece rachado. A principal motivação desta possível divisão é o avanço do discurso de ódio promovido pelas aberrações do Ministério Público (MP) que culminaram na ascensão de figuras que beiram o nazismo como Bolsonaro, frutos do avanço da não política.

Os neoliberais, liderados pelo PSDB e os grandes empresários, em conjunto com o centrão fisiológico do Congresso Nacional (PTB, PP, turma do Eduardo Cunha e parte do PMDB), perceberam que chocaram o ovo da serpente fascista ao bancar os absurdos procedimentos da turma de Moro, pois ao contrário do que pensavam antes do golpe de 2016, eles não passaram a ser vistos pelo povo como salvadores da pátria, mas apenas mais uma face da mesma moeda da corrupção!

Este é um ponto chave! Pois ao perceberem que quem saiu (e segue) fortalecido não foram eles, rapidamente começaram a mobilizar seu principal representante no Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para começar a denunciar os óbvios abusos da lança chamas, como as conduções coercitivas por exemplo.

Esta provável segmentação do bloco direitista conservador, que parece estar buscando romper com a extrema direita de Moro, Dallagnol, pastores evangélicos radicalistas e a grande mídia, precisa ser melhor explorada pela esquerda democrática! Não foi a toa, que depois de 20 anos de simpatia, a Rede Globo passou a atacar, por exemplo, Gilmar Mendes. Como dizia o velho Brizola: “do lado que a Globo está, eu estou contra”.

Sem dúvida alguma que nenhum destes grupos é progressista, nem tampouco democrático, mas em um momento onde o país está à beira do fascismo e o presidente mais bem avaliado da história tende a ser condenado ou até preso sem provas, até mesmo o “inimigo do meu inimigo tende a ser meu amigo”. Não enxergar isso é de uma irresponsabilidade política ímpar!

Lula, que não é bobo, já percebeu isso faz tempo, tanto que em suas caravanas pelo Brasil tem evitado o discurso de ódio, preferindo, curiosamente, repetir as ações de Sun Tzu, mostrando na prática que “um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder jamais deve iniciar uma guerra motivada pela ira”.

Bobos são os que não aprenderam nada com estes episódios todos, pois no ímpeto de querer ajudar, acabam atrapalhando ao repetir discursos de ódio que fortalecem Bolsonaro & Cia., como no caso da prisão do octogenário Maluf, viúvo da ditadura e enfim condenado. Mas será que isto é motivo de comemoração mesmo? A quem serve Maluf preso debilitado pela velhice e no fim da vida? A quem tem sede de justiça cega pelo ódio ou quem quer restaurar a democracia? Também a extrema direita sabe usar estratégias de guerra, neste caso: “toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir”, ensinamento clássico de outro gênio da política (e da guerra), Maquiavel.

Jogar Maluf, que já não serve mais aos leões, como foi também Aécio semestre passado, é apenas deixar um bode expiatório na busca de holofotes midiáticos, tirando de cena o óbvio: o julgamento sem provas do ex-presidente com nome de molusco.

Se a esquerda democrática quer garantir uma eleição com todos e todas que queiram ser candidatos efetivamente possam ser candidatos, como se espera em uma democracia real, é preciso parar de sectarismo e de querer fazer política com o fígado.

Fazer uma aliança ampla capaz de isolar as serpentes do fascismo é tarefa imediata, ampliar radicalizando e radicalizar ampliando, ou seja: abrir debate com a direita neoclássica e isolar os extremistas. Como ensinando por Sun Tzu: “a vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço”.

Até a próxima.

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