William Waack, novos tempos

Em 8 de novembro do ano que não passou ainda, um vídeo do jornalista William Waack começou a rodar na internet. Nele, Waack aparecia em Washington, nos Estados Unidos, incomodado com um homem que buzinava. E fez este comentário:

“Tá buzinando por quê, seu m**** do c*****? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… É preto. É coisa de preto”

Mais de 2 meses depois, em um 2018 que prolonga 2017, a Folha de São Paulo publicou um texto do jornalista e mais uma entrevista. Seria a sua oportunidade de defesa, falaram com razão os justos. Mas a defesa ele a estragou e se pôs perdido a se perder.

No artigo do domingo, 14 de janeiro, William Waack escreveu no primeiro parágrafo:

“Se os rapazes que roubaram a imagem da Globo e a vazaram na internet tivessem me abordado, naquela noite de 8 de novembro de 2016, eu teria dito a eles a mesma coisa que direi agora: ‘Aquilo foi uma piada —idiota, como disse meu amigo Gil Moura—, sem a menor intenção racista, dita em tom de brincadeira, num momento particular. Desculpem-me pela ofensa; não era minha intenção ofender qualquer pessoa, e aqui estendo sinceramente minha mão’ “

Começou mal, muito mal. Aquilo não foi uma piada nem mesmo idiota, aquilo foi racismo. Inconsciente talvez, se lhe cair o benefício da dúvida. E aqui, penso que Waack não deve andar bem do juízo há muito, seja pelas “brincadeiras” com os coleguinhas, com quem se indispôs por acidente ou superioridade. Já em outra oportunidade, quando chamou a repórter Zelda Mello de Zelda merda, a sua vontade íntima falou mais alto, neste ato falho: 

Mais adiante, no mesmo artigo da Folha de São Paulo, ele perde a memória do que perpetrou, ao escrever:

“Durante toda a minha vida, combati intolerância de qualquer tipo”

Isso não é verdade. É dele um livro anticomunista, de nome Camaradas, do qual se faz propaganda com leitura gratuita na web. E na sua escrita, ele mandou às favas qualquer melhor interpretação ou pesquisa, ao passar por cima de historiadores brasileiros. No Estadão, o jornalista chegou a publicar:

“Há debate entre historiadores sobre a margem de manobra que dirigentes comunistas brasileiros tinham em relação às diretrizes estabelecidas pelo PC soviético e, no caso específico de 1935, em relação ao que era elaborado pelo Komintern, por sua vez completamente dominado e controlado pelos ‘órgãos’, o volumoso aparato de repressão, espionagem e segurança do regime soviético. No caso brasileiro, a julgar pela base documental, era bem pouca….
Talvez ironia final seja a descoberta do ‘Ouro de Moscou’, a expressão com a qual adversários dos comunistas durante décadas tratavam de designá-los como simples paus mandados a serviço de quem pagava. Não, o ouro não era de Moscou. Era de Prestes, que levou o dinheiro para a União Soviética. E, lá, o entregou a Moscou”.

Em comentário a seu recente artigo na Folha de São Paulo, um leitor trouxe à lembrança:

“Acostumado a flutuar entre os donos do poder, Waack deve ter perdido o chão ao ter divulgadas suas opiniões – e chacotas -, que sempre fazia com tranquilidade, pois jamais foi admoestado por exercer um poder inigualável e inatingível. Os tempos mudaram !!”

No final do texto, William Waack escreveu em sua legítima defesa, digamos:

“Mas constitui um erro grave tomar um gracejo circunstanciado, ainda que infeliz, como expressão de um pensamento”.

A verdade é que a sua ficha ainda não caiu. Nele ainda fala e falha o senhor arrogante. Mr. Waack não percebeu que o erro mais grave talvez não tenha sido um gracejo que ele qualifica de “circunstanciado”. Talvez o erro maior seja o de não perceber que o seu comentário foi racista. Pior, ele nem sequer notou ainda que está marcado a ferro como os escravos eram marcados. Mas desta vez como Racista, que passou a ser a marca de William Waack. É só olhar o Google. Novos tempos, quem diria.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor