Não me assusto com mais quase nada

Em 2003, assustei-me ao ver o rebuliço dado pela grande mídia empresarial ao simples fato de Dona Marisa ter cultivado flores vermelhas (sálvias) no jardim do Palácio do Alvorada. Um ato espontâneo, sem nenhuma relevância, ganhou os noticiários por dias e noites.

Em 2004, assustei-me ao ver a repercussão da grande mídia empresarial que acusava o PT de participar do Foro de São Paulo, como se isso fosse uma conspiração. Uma organização de partidos de esquerda totalmente aberta, democrática e plural, voltada à discussão política sobre os rumos da América Latina, foi transformada em uma espécie de seita satânica.

Em 2005, assustei-me ao ver a grande mídia empresarial dar toda a credibilidade a um réu confesso chamado Roberto Jefferson (que ficou preso poucos dias alegando um câncer terminal, apesar de estar vivo até hoje), que, sem apresentar uma única prova, criou a narrativa de o PT ter criado o tal "mensalão" em troca do apoio de votos no Congresso.

Em 2006, assustei-me ao ver a grande mídia empresarial condenar um Ministro da Fazenda do governo Lula, forçando a sua demissão, baseado somente na palavra de um caseiro (Francenildo Pereira), sem que nenhuma prova também fosse apresentada. Pela primeira vez um trabalhador teve voz na Globo (de acordo com suas conveniências, claro).

Em 2007, assustei-me ao ver a grande mídia empresarial criar o tal "escândalo do dossiê" em que "aloprados" quiseram ter acesso a uma série de documentos que incriminava José Serra com a máfia dos "sanguessugas". Nada que chegasse nem aos pés do vale-tudo de hoje com a Lava Jato em sua força-tarefa para incriminar Lula.

Em 2008, assustei-me ao ver a grande mídia empresarial inventar mais um escândalo nacional, exigindo a renúncia do ministro do Esporte Orlando Silva, em razão da compra de uma mísera tapioca de dez reais, feita por descuido no Cartão Corporativo.

Em 2009, assustei-me ao ver o terremoto causado pela grande mídia empresarial que acusava o governo Lula de receber dólares de Cuba. Até hoje nada foi provado, mas, como sempre, ficou por isso mesmo.

Em 2010, assustei-me ao ver a grande mídia empresarial, principalmente a revista Veja, usar o depoimento de um criminoso para acusar o filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, de participar de tráfico de influência. Isso foi bombardeado em pleno período eleitoral. Erenice deixou à disposição da justiça o seu sigilo fiscal, bancário e telefônico, além dos sigilos de pessoas de sua família disponíveis para consulta. Nada foi comprovado, mas nem um pedido de desculpas foi dado.

Durante todo o governo Dilma, passei a me assustar menos. Até chegar aos dias de hoje em que não me assusto nem mesmo com essa tentativa de assassinato contra o presidente Lula, com a conivência dessa grande mídia empresarial.

A única coisa que me assusta de verdade é ver que boa parte da esquerda ainda acredita que podemos voltar a governar o país com esse criminoso monopólio midiático, de propriedade de umas cinco famílias, que representa a extrema direita mais odienta e mercenária do mundo. Isso sim, me assombra.

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