Frente Ampla ou Frente de Esquerda: O debate que não se encerra

 Talvez o principal (e triste) acontecimento político do último mês de Março de 2018 tenha sido a tentativa de assassinato ao ex-presidente Lula na região Sul do país. Seja entre a esquerda, ou mesmo entre a direita (com o governador do PSDB de São Paulo declarando que “o PT colheu o que plantou”), o debate sobre esta lamentável situação povoou os semanários de notícias.

O ponto principal a ser pensado, reside no fato do tamanho da representatividade que existe numa ação tão audaciosa como esta. Se o maior líder popular da história da nação teve seu ônibus alvejado a tiros e a mídia tradicional tratou com naturalidade, a exemplo do assassinato da parlamentar Marielle (PSOL-RJ) no centro do Rio de Janeiro, o que ainda está por vir?

Fazendo o recorte dos últimos dois anos, o site Congresso em Foco, em 16 de Março de 2018, mostra que ao menos 36 vereadores foram assassinados no exercício de seus mandatos, englobando 17 diferentes estados em todas as regiões do Brasil. Isso mostra, com clareza, que estes dois tristes episódios não parecem serem frutos do acaso, existe uma clara intenção de silenciamento daqueles que incomodam as elites.

Em um momento tão complexo, onde a conjuntura muda num piscar de olhos, é fundamental que se tenha claro o risco real de sobrevivência não só da democracia, mas da vida daqueles que lutam e teimam em desafiar os poderosos. Isso não é um jargão, os números mostram que existe um extermínio de lideranças políticas em andamento e as autoridades competentes fingem não ver.

Talvez a parte positiva deste cenário preocupante, seja o grande comício unitário do encerramento da caravana de Lula pela região Sul, mais especificamente em Curitiba, com a presença de dois importantes pré-candidatos a presidência presentes, Manuela (PCdoB) e Boulos (PSOL). Pode parecer simples, mas este gesto que representa o repúdio ao ódio e a intolerância, reunindo três das principais lideranças dos maiores partidos de esquerda do país, merece ser observado.

Evidentemente que ações como esta precisam ir além da própria esquerda, mas buscar a unidade, também entre ela, é fundamental. E não se pode jogar no ralo esta excelente atitude, pois construir uma frente capaz de combater o fascismo em ascensão é essencial!

Como dito no parágrafo anterior, esta frente precisa ir além da própria esquerda. E por quê? Pois é preciso disputar o “centro” e a classe média, que historicamente se mostram contrários a discursos e ações radicalizadas. A estratégia golpista é bem clara: deixar a extrema direita propagando seu discurso raivoso de modo a criar uma falsa dicotomia com a esquerda, ou seja: colocar PT, PCdoB e PSOL x Bolsonaro, dando um ar de guerra às eleições de modo que possam apresentar, ao eleitorado, uma “saída mediadora” entre ambos.

Esta “saída mediadora”, não tem nada de “mediadora”, pois o plano golpista é emplacar o tucano Geraldo Alckmin como o apaziguador de ânimos, buscando assim, conquistar nas urnas o que Michel Temer não conseguiu com o golpe: respaldo popular para terminar de destruir nosso patrimônio nacional.

Entender como estão se mexendo as peças no tabuleiro da política é fundamental neste momento cada vez mais difícil que vivemos. Portanto, ampliar o discurso trazendo para a órbita daqueles que defendem a democracia e os direitos humanos a classe média e os partidos de centro, que ainda estão perdidos desde o impedimento da presidente Dilma é fator chave, não se pode ficar “pregando apenas para os convertidos”, é primordial alargar o rol de aliados!

Aos que ainda tem dúvidas de como a Frente Ampla é urgente, basta relembrarmos mais um triste episódio de nossa história recente, o assassinato do estudante secundarista Edson Luiz em 1968 (que carrega traços bem similares ao da vereadora carioca Marielle). Já naquela época, partes dos defensores da democracia e que combatiam a ditadura fascista, rejeitavam a Frente Ampla, pois pensavam que ter ao seu lado Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek os fariam “menos revolucionários”.

Resultado: Ato Institucional n°5 (AI-5) que endureceu ainda mais o regime militar e institucionalizou a perseguição, os assassinatos e a tortura. Vamos errar de novo com os mesmos argumentos do passado? Será que não aprendemos nada?

Até a próxima.

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