Lula é um gigante que não cabe em uma Frente de Esquerda

Estive 24 horas em frente ao histórico Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, entre os dias 5, 6 e 7 de abril. Infelizmente, saí antes do memorável discurso de Lula e de sua saída pelos braços do povo. Tive vontade de me socar.

Gostaria muito de ter ajudado a carregar sobre meus ombros aquele gigante. Mais ainda, queria ter sido um dos que se puseram em frente ao portão para impedir sua saída, mesmo que por alguns minutos. Há horas em que podemos e devemos deixar a emoção falar mais alto.

De toda forma, valeu imensamente ter ficado esse período em meio àquela massa humana. Precisava dessa energização, ao lado de tanto sentimento de solidariedade e amor ao próximo, em tempos tão sombrios e frios de uma rede social que desumaniza e insensibiliza milhões. Igualmente prazeroso foi rever inúmeros amigos e amigas, de longas jornadas de lutas.

Mas o fundamental que pude sentir naquele calor da batalha, tão importante para balizar a teoria, é que Lula é um gigante que não cabe em uma frente de esquerda.

A ideia que Lula representa, tão bem sintetizada por ele próprio em seu discurso histórico, não necessita ser carregada por todos os segmentos da sociedade. Mas o direito dessa ideia ser expressa, sim.

Todos os que não aceitam o monopólio da verdade pela Globo, ou a judicialização da política ou a criminalização dos movimentos sociais, podem e devem ser incorporados nessa Frente Ampla antifascista.

Até mesmo um liberal do naipe de Reinaldo Azevedo, por mais que ele próprio tenha se destacado como tropa de choque da campanha do ódio contra Lula e a esquerda em geral, é um dos que têm coragem hoje para denunciar os arbítrios da Lava Jato. Mesmo mantendo-se no campo da direita mais neoliberal, pode e deve se somar à luta contra a nova ditadura do judiciário que se implantou no país.

Até mesmo no partido de Temer, uma verdadeira colcha de retalhos, há inúmeras vozes importantes que não se coadunam com esse novo Estado de Exceção que vivemos. Renan Calheiros e Roberto Requião, por exemplo, têm se destacado por se posicionarem na linha de frente contra os abusos da Lava Jato.

Até mesmo no PSDB, há vida responsável capaz de perceber a necessidade de se fechar a Caixa de Pandora. Mas para isso é necessária muita maturidade e humildade para propor o diálogo ao adversário que ainda não se definiu como inimigo.

Até mesmo um presidenciável como Ciro Gomes, que ora bate e ora assopra, com todo seu projeto pessoal e político descolado do PT, é peça fundamental para se somar ao esforço de entendimento nacional que, mais cedo ou mais tarde, mesmo sendo probo, será mais um condenado por defender o povo brasileiro.

Isso tudo, claro, sem falar das inúmeras entidades, movimentos e instituições que, para além das discordâncias pontuais com a esquerda, devem voltar a marchar juntas pela retomada do Estado Democrático de Direito, a exemplo da OAB.

Esses poucos mas representativos exemplos ilustram bem o caráter estratégico da luta que nos é imposta, de longa duração, contra um inimigo bem maior: o fascismo. Todos esses aliados temporários podem ser vencidos no futuro dentro da luta política. Mas fora da luta política, resta-nos a barbárie.

E é exatamente este o caráter fascista da Lava Jato. Uma força que se coloca acima dos demais poderes, criminalizando a política e atribuindo as corrupções próprias de um sistema como sendo a de um governo em especial. Uma força apolítica que assume a política mais escancarada da direita golpista.

A prisão ilegal de Lula abala e toca fundo a alma de todos os democratas do mundo. Lula e a democracia merecem uma Frente Ampla bem mais robusta e, de fato, dilatada.

Mesmo sendo muito gratificante ver um mesmo discurso em um mesmo palco, unificando PT, PSOL e PCdoB, há muita gente ainda para subir nesse carro de som para falar para muito mais gente que, embora não seja de esquerda, defende a bandeira do Lula Livre e se posiciona contra o fascismo.

É o mínimo que podemos fazer por Lula e pela ideia que ele representa, que de agora em diante se difunde por nossos corpos e mentes: a ideia da liberdade e da democracia.

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