Contra a ameaça ditatorial, afirmar a política democrática e progressista

O aprofundamento do golpe, com a prisão do presidente Lula e as reiteradas ameaças de novas perseguições e criminalização dos movimentos populares e partidos de esquerda fazem soar o dobre de finados da democracia e da Constituição republicana de 1988, vilipendiada e violada pelo governo, as casas legislativas, os estamentos policiais e persecutórios e a Corte Suprema, o que não deixa de ser um paradoxo, tão brasileiro, porquanto esta última é designada como o principal guardião da Carta Magna.

A deriva autoritária traz a luta democrática ao primeiro plano dos embates políticos da atualidade. Por óbvio, luta democrática para viabilizar a causa nacional e o progresso social.

Se é verdadeira a tese de que a base da tática ampla, combativa e flexível da esquerda consequente é a inserção das forças de vanguarda no curso real dos acontecimentos, e de que é indispensável observar sempre a correlação de forças com base na “análise concreta da situação concreta” (Lênin), há de se convir que, objetivamente, a luta pela libertação do presidente Lula da prisão política a que está injusta e ilegalmente constrangido sintetiza a luta democrática nas condições atuais.

Igualmente, também deve concentrar todas as energias das forças democráticas e progressistas o empenho para que o presidente Lula tenha garantido o direito a postular sua candidatura, malgrado a sentença em contrário antecipada por torquemadas que julgam estar acima da Constituição e das leis.

Independentemente de qual venha a ser a conduta tática da esquerda no caso do impedimento de Lula ser candidato, não há dúvidas de que o que se prepara para o 7 de outubro vindouro não é uma eleição, mas um simulacro, cuja encenação poderá resultar na formação do mais ilegítimo governo de toda a história do país, ressalvados os péríodos de ditadura militar. Nunca foi tão óbvio que a prisão ilegal e injusta do presidente Lula nada tem a ver com o combate à corrupção, mas foi um ato político com fins imediatamente eleitorais. Portanto, nunca é demais repetir: nestes termos, eleição sem Lula é fraude e golpe, sim.

Em tais condições, as forças progresssitas, a consciência jurídica democrática, independentemente do movimento em que atuem, da corrente política e eleitoral que representem devem unir-se, criar uma frente, a mais ampla possível, para defender a democracia, libertar o presidente Lula e assegurar a realização de eleições livres e limpas.

É também óbvio que, sendo ampla, a frente a ser formada terá necessariamente um lado, pertencerá a um determinado campo de forças e lutará contra os partidos e lideranças que protagonizam o campo golpista, de que são representantes pré-candidaturas como as Geraldo Alckmin, Michel Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Joaquim Barbosa, Marina Silva et caterva, mal chamados de candidatos do centro. São postulantes da direita, que pretendem oligopolizar toda a cena eleitoral no primeiro e segundo turnos.

Na medida em que assoma a ameaça ditatorial, fica “um grito parado no ar” e a esperança é de novo substituída pelo medo. Não se deve dar por vencida a batalha, mas é possível que os democratas e progressistas do país tenham que fazer uma travessia no deserto, empreender uma acumulação prolongada de forças, tomando como ponto de partida a compreensão de que estamos vivendo uma nova etapa da luta política e social, na qual os reacionários encontram-se em plena e brutal ofensiva e exibem descomunal poder, ainda que historicamente efêmero.

Na nova encruzilhada histórica que vive o Brasil há um lado a escolher, o da luta pela democracia, os direitos do povo, a soberania nacional. E um método a adotar, o da resistência, da união e da luta, sem tréguas nem concessões, contra inimigos que pretendem instaurar uma ditadura, impedir o progresso social e submeter o país ao imperialismo. Não pode ser outra a postura política, ideológica, organizativa e ética da esquerda consequente Seria um crasso e imperdoável erro, para dizer o mínimo, confundir aliados com inimigos, porque ao fazê-lo renuncia-se à luta, capitula-se e muda-se de campo.

Nas opções que a esquerda fizer em face da atual encruzilhada histórica é necessária a convicção de que não haverá travessia fácil, nem retilínea , nem abrupta. Impõe-se visão estratégica, de longo prazo, mentalidade histórica e não imediatista-conjuntural, cultura de revolução em desenvolvimento e permanência e não o conjunturalismo e o imediatismo fúteis e fugazes.

Há círculos para os quais a opção tática é misturar campos antagônicos e palanques eleitorais, numa mixórdia em que se mesclam adversários e aliados de FHC, Alckmin, Temer, Joaquim Barbosa, Rodrigo Maia, Marina Silva e companhia, em nome da tese de que o Brasil precisa se “despolarizar”.

A defesa da política contra a ditadura da toga, da mídia monopolista e a ameaça de intervenção militar não é uma opção por uma política neutra ou de conciliação, mas a ratificação de uma política substantiva, democrática, progressista.

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