China mantém foco na abertura e nas mudanças estruturais

No ano em que a China celebra 40 anos da política de reforma e abertura, período em que passou de uma economia fechada ao exterior para a principal exportadora e importadora de bens, ultrapassando os Estados Unidos em 2013, as mudanças estruturais a que o país tem se dedicado e acostumado estão mais uma vez nos holofotes.

A China quer agora um crescimento focado em qualidade e com uma manufatura de excelência, o que significa um investimento maciço em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e que compõe parte da estratégia Made in China 2025. Tem significado também percalços, tais quais a disputa comercial protagonizada pelos Estados Unidos.

Paralelo a um caminho rumo a mais qualidade, Beijing reforça o apoio à globalização e ao combate a políticas protecionistas. É uma das evidências mais claras do vigor das transformações adotadas a partir de 1978 e que catapultaram o país do posto de 32º no ranking de países participantes do comércio internacional para a liderança em três décadas.

Se no início do processo o país era tímido em relação ao comércio global, agora tal componente é central no modelo de desenvolvimento chinês. Mas com uma diferença: hoje a China não exporta apenas produtos baratos e de qualidade baixa e ainda busca diminuir a dependência de importação de insumos intensivos em tecnologia. Compete com grandes conglomerados – e países – até então hegemônicos em outros mercados – e, dentro de casa, acirra a competição para quem produz chips, máquinas complexas e outros equipamentos. Mexe com estruturas que, dada a globalização e suas cadeias globais de valor, são também caras a outras nações.

Neste sentido, é interessante notar que no processo de desenvolvimento chinês, especialmente a partir da política de reforma e abertura, tanto quanto a velocidade com que o país cresceu, as reformas estruturais são uma constante. Um motor de mudanças tão acelerado quanto os incrementos produtivos. E é de se pensar que a economia dê sinais de crescimento e desenvolvimento justamente por isso.

Tais movimentos não são triviais e hoje acirram disputas como o recente banimento dos produtos da gigante de telecomunicações chinesa ZTE do mercado norte-americano pelos próximos sete anos. A justificativa tem como base a venda de produtos para países sob embargo, como Irã e Coreia do Norte, e o fato de que os funcionários responsáveis por tais operações não só não foram punidos, mas recompensados em suas funções. A empresa e o Ministério do Comércio chinês já se pronunciaram contra as alegações norte-americanas, mas é interessante notar que a ZTE é a empresa líder no desenvolvimento de tecnologia e padrão 5G, por meio da qual tanto a chamada Revolução Industrial 4.0 e a miríade de produtos e serviços prometida pela Internet das Coisas poderá operar. Um exemplo simples é a possibilidade de massificação dos veículos de condução autônoma. Quem detiver tais padrões e tecnologia terá, logo, um impacto global.

Enquanto busca uma manufatura de ponta e advoga por menos protecionismo, a China reforça ainda mais o compromisso com a abertura econômica em outras pontas. O fato mais recente é a criação de uma zona piloto de livre comércio na província tropical de Hainan. Na ilha, o porto local terá novas regras e turistas de 59 países, incluindo o Brasil, poderão ficar no local sem visto por 30 dias, desde que reservem suas viagens por agências.

É mais uma experimento em um país cujo primeiro trimestre mostra que a economia continua vibrante. O PIB atingiu 19,88 trilhões de yuans (US$ 3,2 trilhões) nos primeiros três meses de 2018, um aumento de 6,8% em relação ao ano passado, igual à taxa de crescimento no trimestre anterior, segundo o governo. Interessante notar que o consumo continua ganhando espaço: os serviços representaram 56,6% da economia e 61,6% do crescimento no primeiro trimestre. O consumo final contribuiu com 77,8% do crescimento econômico, em relação a 58,8% no ano passado.

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