Perdemos, é fato. Mas e agora? O que fazer?*

 O último domingo 28 de outubro entra para a história como a data em que, mesmo com ampla mobilização social, as forças mais retrógradas e conservadoras do Brasil alcançaram o mais alto posto da república, elegendo Jair Bolsonaro.

Com uma campanha que mais parecia um circo dos horrores, graças a disseminação indiscriminada de fake news e todo tipo de mentira sobre seus adversários, o candidato do PSL trouxe, junto consigo, de volta para o poder, os militares de caserna, muitos aposentados e saudosos da ditadura militar.

Os erros do campo popular ao longo (e antes) do pleito eleitoral foram inúmeros: menosprezar o fascismo e seu potencial mobilizador de ódio, não observar o necessário (e amplo) arco de alianças capaz de isolar Bolsonaro, a excessiva atenção dada a campanha de TV em detrimento das redes sociais, a avaliação errônea que o grande inimigo era o PSDB (outro derrotado da eleição), entre outros.

Tendo em vista tão tenebroso cenário, fica a grande pergunta para o campo progressista: o que fazer?

O primeiro passo é saber onde estamos e para onde vamos. Ficar chorando em casa desesperado não vai resolver nada, é preciso analisar os fatos à luz do materialismo dialético de modo a observar onde podemos ser capazes de contribuir para a frenagem do avanço fascista.

Onde estamos: em um país onde a esquerda foi amplamente varrida, com exceção do Nordeste. Entender nosso tamanho é chave. Discursos cheios de remorso buscando culpados onde a culpa é de todos não contribui em absolutamente nada. É preciso calçar a sandalinha da humildade, ouvir o povo, analisar os resultados e recomeçar.

A palavra chave deve ser resistência. E é em torno dela que deve se buscar uma frente ampla, amplíssima, que tenha em seu mote a defesa da democracia e dos direitos sociais mais básicos. Quem não entendeu ainda o buraco de tatu que nos metemos está literalmente em outra dimensão.

A pauta comum a ser buscada (defesa do estado democrático de direito) não é uma bandeira só da esquerda, mas de todo cidadão responsável que considera avançada a

Constituição de 1988, portanto, todo defensor dessa pauta, deve ser considerado aliado, sem nenhum tipo de distinção, seja ideológica, pessoal ou política.

O mote do debate precisa deixar de ser as pautas identitárias, as urnas mostraram muito bem que o brasileiro comum está preocupado é com o desemprego e a segurança, é preciso falar a linguagem do povo, parar de perder tempo com visões liberais que, na essência, não fazem a menor diferença para quem já sofre com o preconceito histórico do aparelho repressor do Estado desde sempre.

É preciso abordar uma agenda agregadora capaz de apresentar aos trabalhadores, desde já, o que o campo progressista defende e entende como política pública para diminuição da insegurança e para geração de emprego e renda.

Soluções de longo prazo como mais investimentos em educação, por exemplo, não dialogam com quem precisa garantir o prato de comida agora. Este foi um dos motivos da vitória do campo conservador: falar o que os outros querem ouvir sem enrolação ou palavras difíceis.

Nosso pais, historicamente, abandona os vendedores de ilusão rapidamente. Foi assim com Jânio Quadros e também com Collor. Veremos o mesmo com o Coiso? É cedo para afirmar, mas seus apoios internacionais fazem duvidar que veremos novamente o mesmo cenário.

A habilidade política dos que estão por trás do presidente eleito merece ser considerada. Apesar do filho de Bolsonaro só falar bobagens nas redes sociais, sua equipe é altamente preparada para fazer o que precisa ser feito, o apoio estadunidense, que vai de Donald Trump a logística da CIA, mostra que não estão para brincadeira.

Prova disso são as várias notícias espalhadas pela mídia como cortina de fumaça para disfarçar os projetos de lei bombásticos que já estão sendo votados nas casas legislativas.

Enquanto os movimentos populares, que seguem batendo cabeça, estão focados em uma possível fusão do Ministério do Meio Ambiente (MMA) com o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o fim da estabilidade para o servidor público já passou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e o Ensino Superior saiu do Ministério da Educação rumo a Ciência e Tecnologia, pasta de orçamento extremamente pequeno, sinalizando que não só o sucateamento das Universidades Públicas vai seguir, mas que vai aumentar. E muito!

É óbvio que fundir o MMA com o MAPA é um retrocesso tremendo, mas não temos um exército tão grande a ponto de nos darmos ao luxo de dividir nossa tropa. Será que, na prática, fará diferença termos ambos os ministérios se o IBAMA e as demais autarquias ambientais forem extintas como prometeu Bolsonaro durante sua campanha? E outra: será mesmo que essa ideia é real, ou não passa de mais uma forma de driblar os holofotes para o que realmente importa? Está na hora de muitos de nós relermos Sun Tzu, mas não só ele, como também Maquiavel, Lênin e Gramsci. Entender como se portar numa batalha de posições é chave!

A guerra de informações parece ainda não ter sido compreendida ainda pelo campo progressista. Seguimos perdendo tempo e gastando energia desmentindo fakes e engolindo iscas sem entender a essência do que está acontecendo. Estamos sendo derrotados, e de goleada!

Os deputados ligados às causas nacionais patrióticas vão diminuir a partir do próximo ano. Somando-se os deputados do PT, PSB, PDT, PSOL, REDE, PPL e PCdoB, não teremos nem um terço da casa, para ser exato não teremos nem 200 parlamentares comprometidos com projetos populares. E aí? Como vai ser?

Se os movimentos sociais não se unificarem em torno da pauta comum da defesa da democracia e do estado democrático de direito, a coisa será ainda mais complicada. Tanto Frente Brasil Popular como Frente Povo Sem Medo, precisam ampliar suas ações para além da esquerda, se não disputarmos os rumos de parte da direita e do centro, seguiremos isolados, será que é tão difícil enxergar isso?

Nem todos os liberais são fascistoides, parece óbvia essa frase, mas não são todos que conseguem entendê-la, tanto é que muitos seguem, de modo sectário e irresponsável, atacando possíveis aliados na defesa das conquistas sociais!

É hora de ampliar, muito, mas muito mais. O final da campanha do segundo turno de Haddad mostra como devemos tocar o nosso samba, lembrando as mobilizações pela Anistia e pelas Diretas Já.

Em ambas as campanhas, só saímos vitoriosos por um motivo simples: ampliamos nosso exército a ponto de isolar o inimigo, é isso que precisa ser feito: disputar as mentes e corações com propostas reais, com uma agenda factível e plausível focada onde mais dói no outro: no bolso, ou seja, no combate ao desemprego e a falta de segurança.

Se não tocarmos nestes pontos nevrálgicos tendo como mote a resistência em defesa da democracia e do estado democrático de direito, seguiremos como estamos: fazendo saraus, bundaços e pregando para convertidos. E isso, como vimos nas urnas, não resolve o nosso problema.

É hora de parar de errar, desde já!

Até a próxima.

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