Iraque: Terrorismo e planos de intervenção

Grupos terroristas mostraram-se novamente como instrumento da fragmentação e da manipulação política pelas potências imperialistas no Oriente Médio, tanto na Síria quanto no Iraque, de onde a intensificação da violência tem sido amplamente noticiada no último mês.

O que era apenas o combate, de um lado, ou o apoio estratégico, de outro, a grupos extremistas como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), se revela, cada vez mais, como um jogo geopolítico que pretende mudar o mapa do Oriente Médio de acordo com a agenda imperialista. No caso do “Iraque e do Levante”, os maiores interessados no que especialistas identificam como uma “reconfiguração regional” são os Estados Unidos e Israel.

A aliança inquebrantável entre o imperialismo e o sionismo – esta ideologia racista e colonizadora de raízes europeias – é comprovada cotidianamente, mas a frequência com que as “evidências” são apresentadas em sangue volta a ser elevada. Para conduzi-la, os estereótipos fabricados sobre o Islã, os árabes, o terrorismo e o “extremismo”, todos cuidadosamente fundidos pela narrativa ocidental, são a ferramenta corrente.

Assim como na Síria, a desestabilização e a ruptura desenham-se como objetivos centrais da recente intensificação da violência no Iraque, cenário em que demasiados atores externos, regionais e globais, ficam evidenciados. O EIIL, grupo “sunita-extremista” suspenso da Al-Qaeda, ficou mais conhecido devido à sua atuação na Síria, com brutalidade tamanha que chegou a ser condenado pelos líderes e pela mídia ocidental, que apoiam incondicionalmente os chamados “rebeldes” contra o governo do presidente Bashar al-Assad.

No início do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, o EIIL ousou e anunciou seu “califado”, que se define como a “única entidade legal que governa sobre todos os muçulmanos”, ou simplesmente “Estado Islâmico”, onde imperaria a alegada lei islâmica, interpretada de forma extremista e agravada por líderes com suas próprias agendas, antes respaldados por aqueles que dizem propagar, paradoxalmente, a liberdade e a democracia.

O Iraque é rico em petróleo e em divergências internas – o que deveria parecer algo usual no âmbito político – a serem inflamadas como instrumento de fragmentação e dominação exterior. A pressão contínua dos Estados Unidos pela retirada do primeiro-ministro xiita Nouri Al-Maliki é aberta, apesar da recente vitória eleitoral do seu partido – com o desafio de formar um novo governo. Entretanto, os planos podem mudar agora que o “califado” foi declarado e que os líderes regionais repensam suas estratégias de defesa contra a guerra que poderá ser anunciada pelo novo “Estado Islâmico”, nas regiões que tomou, entre o noroeste do Iraque e o nordeste da Síria.

A aliança com monarquias sunitas como a Arábia Saudita e grupos armados do mesmo ramo é fundamentada na tentativa desesperada de arrasar governos xiitas como os do Irã, da Síria e do Iraque, mas enquanto a roda continua girando e a estratégia se revela um tiro no pé – como já aconteceu tantas vezes na história recente da “guerra contra o terror” – tudo está em jogo, até táticas consolidadas, mas viciadas.

Enquanto isso, o cálculo é feito a portas fechadas pelos imperialistas para dosar a reação e coordenar posicionamentos mais favoráveis às suas agendas, para as quais a destruição, as mortes de milhares de civis, a guerra e o impacto político regional são detalhes na formulação das suas políticas externas manipuladoras e intervencionistas.