O Senado não pode repetir o vexame que ocorreu na Câmara

O Senado Federal prepara-se para decidir sobre o acatamento da absurda decisão da Câmara dos Deputados, que estarreceu os brasileiros e o mundo, e deliberar sobre o andamento do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

O rito está definido e cabe ao Senado decidir, inicialmente, se instala o processo de impeachment em duas votações, a primeira na Comissão Especial e a segunda no plenário. Admitido o processo, a presidenta legalmente eleita é afastada e seu lugar assumido pelo vice, sem votos, Michel Temer, que passará a comandar a Presidência da República até o julgamento final do processo, que pode ocorrer seis meses depois.

Ora, os brasileiros e o mundo já perceberam o absurdo político que seria a própria instalação do processo contra a presidenta. O próprio grão-tucano Fernando Henrique Cardoso, que faz parte do comando, admitiu nesta terça-feira (26), em entrevista à Folha de S. Paulo, que Dilma é “honesta” e o processo é político. Só faltou reconhecer que tirá-la do governo é golpe!

O Brasil não quer golpe, nem Temer, que não tem legitimidade, não teve nem tem votos, e um eventual governo seu representaria apenas e tão somente o 1% mais rico da sociedade brasileira, contra todos os demais!

É uma realidade reiterada pelas pesquisas de opinião. As últimas, feitas pelo Ibope e pelo instituto Vox Populi, mostram o retrato do teatro do absurdo em que os golpistas transformaram a política brasileira.

Pelo Ibope, 62% querem a saída de Dilma e Temer e a convocação de novas eleições, mas um quarto dos eleitores (25%) apoia a permanência de Dilma. Somente 8% apoiam o afastamento de Dilma e um eventual governo de Michel Temer – quer dizer, Dilma tem três vezes mais apoiadores do que o golpista!

Realidade semelhante é descrita pelo Vox Populi. Em uma eventual eleição presidencial, Lula sai na frente em todos os cenários, bem adiante de Marina Silva e Aécio Neves. Lula tem, nos cenários pesquisados, por volta de 30% das preferências, enquanto Marina e Aécio oscilam em torno de 20% cada um.

Estes números exprimem a crescente rejeição popular ao golpe, manifestada em atos públicos pela democracia, alguns realizados de forma quase espontânea, que se repetem quase diariamente pelo Brasil.

Atos nos quais o povo, os movimentos sociais, as centrais sindicais, a União Nacional dos Estudantes e a juventude, junto com artistas, intelectuais, cientistas, juristas, todos os democratas e progressistas, demonstram o inconformismo contra o golpe e a disposição de resistência e luta sem quartel contra a direita antidemocrática.

Num encontro desta terça-feira (26) com representantes dos movimentos sociais (que lhe entregaram 450 manifestos de diversas entidades e segmentos sociais contra o golpe) o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), garantiu isenção no trâmite do processo naquela casa, disse que trabalhará para não haver “equívocos”, e garantiu “o máximo de previsibilidade democrática” no processo – exatamente o contrário do que ocorreu na Câmara dos Deputados, na sessão de 17 de abril.

As manifestações contra o golpe ocorrem pelo país afora, e mesmo nas grandes cidades do mundo, levando a luta popular a um novo patamar, e que dão carne à frieza dos números revelados pelas pesquisas – o sangue, os músculos e os ossos da enorme insatisfação contra o golpe.

Qual será, neste quadro, a manifestação do Senado – seguirá a aspiração popular pela democracia, legalidade e defesa do processo eleitoral legítimo que deu a Dilma Rousseff mais de 54 milhões de votos? Ou o Senado vai perfilar ao lado dos golpistas que rondam a democracia brasileira?