Ditadura uruguaia investigou 300 mil cidadãos

A ditadura militar uruguaia (1973-1985) investigou e cadastrou cerca de 300 mil cidadãos por meio de “milhares de procedimentos” realizados contra todo tipo de instituição, informou nesta segunda-feira (11) a imprensa do país.

Segundo um documento de 1981 destinado ao Ministério do Interior pelo então diretor da inteligência policial, Victor Castiglioni, essa divisão investigou, interrogou e fichou cidadãos uruguaios para controlar o histórico e os ideais dos funcionários públicos.



O documento, reproduzido na capa do jornal La República, veio a público na “Investigação sobre Presos Desaparecidos”, um relatório apresentado no dia 4 de junho pelo presidente Tabaré Vázquez.



As perseguições e “fichamentos” serviram para que milhares de uruguaios fossem presos e outros tantos destituídos da função pública, além de impedir que os opositores da ditadura alcançassem esses postos.



O relatório revela também que, desde 1974 e “com o intuito de erradicar as profundas raízes desenvolvidas pelo comunismo no corpo social do país”, começou a se investigar as atividades de diversas instituições profissionais, culturais, sociais, esportivas, dentre outras. Eram controladas “suas assembléias e ações eleitorais” e os antecedentes de suas autoridades registrados sempre que possível. “São milhares de investigações deste tipo que foram realizadas e seguem se realizando”, informava o relatório.



Divisões



A ditadura militar dividiu os cidadãos em A, B e C de acordo com antecedentes políticos e compromisso com o regime. Os cidadãos encaixados nas categorias B e C não podiam desempenhar nenhuma função pública, eram submetidos à vigilância permanente pelos organismos de repressão e tampouco poderiam integrar a direção de instituições sociais.



O relatório apresentado por Vázquez contém 3.612 páginas. Os técnicos que o elaboraram concluíram que “a prática de desaparecimento forçado de pessoas como manifestação extrema do terrorismo de Estado foi a expressão da vontade de um regime instituído arbitrariamente”.



Nos cinco volumes do material foram publicados 67 documentos com detalhes da repressão contra o Movimento de Libertação Nacional Tupamaros – hoje majoritário na coalizão governante Frente Ampla –, o Partido pela Vitória do Povo, os Grupos de Ação Unificadora, o Partido Comunista e outras organizações resistentes à ditadura. Há também relatos de cinco unidades militares, oito centros de interrogatórios e nove cemitérios clandestinos das vítimas.



O regime militar assumiu o governo do Uruguai logo após o golpe de Estado encabeçado pelo ex-presidente Juan María Bordaberry, no dia 27 de junho de 1973. Na ocasião, o parlamento foi fechado e foram ilegalizados os sindicatos de trabalhadores; milhares de cidadãos foram presos e torturados e ao menos duzentos opositores seqüestrados seguem desaparecidos.



Fonte: Ansa Latina