O julgamento medieval da Ação Penal nº 470

No mesmo dia em que o ex-governador de São Paulo, Claudio Lembo (DEM) classifica o julgamento do chamado “mensalão” de medieva, a revista de esquerda Retrato do Brasil divulga vídeo com nome igual. Coincidência?

Por José Carlos Ruy

Raimundo Pereira e Fernando Morais

Pode ser coincidência; pode ser também que vai se firmando a compreensão de que a Ação Penal nº 470 (chamada de “mensalão”) seguiu ritos medievais de julgamento. Nesta terça-feira (23), quando o jurista conservador Claudio Lembo aplicou este rótulo para definir aquele processo, a revista Retrato do Brasil divulgou o vídeo com título semelhante ("Mensalão, AP 470, julgamento medieval"), onde desmonta as principais alegações repetidas, à exaustão, pela mídia da direita. E não se trata de falatório: a base documental do vídeo são os documentos do próprio processo; são os “autos”.

A investigação é narrada no vídeo pelo escritor e jornalista Fernando Morais e por Raimundo Pereira, decano da imprensa de esquerda no Brasil, que tem em seu currículo nada menos do que o enfrentamento destemido da ditadura militar, na década de 70, quando criou e dirigiu os semanários Opinião e Movimento. E continua na luta pela democeratização profunda do pais, como mostra o vídeo onde coloca em questão as alegações do relator Joaquim Barbosa e do então procurador geral da República Roberto Gurgel. Nele, revela que as acusações contra alguns dos réus da Ação Penal 470, não correspondem à verdade e não tem sustentação nos fatos relatados nos autos.
 
O vídeo (aqui), produzido pelos jornalistas Raimundo Rodrigues Pereira e Lia Imanishi, é didático, e tem 27 minutos de duração. Vale a pena ser assistido, divulgado amplamente, e debatido. Nele se vê, por exemplo, a falsidade da tese do "desvio de recursos públicos" por meio da Visanet: na verdade, tratou-se de um empréstimo, regularmente pago, sendo que um dos maiores beneficiários da campanha foi justamente a Globo, que moveu dura campanha contra os réus no que chamou de "julgamento do século".